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  • Foto do escritorCardoso Júnior

Todos nós Desconhecidos – Reino Unido -2023

 


Eis um daqueles raros filmes muito difíceis de se escrever sobre por conta de sua complexidade e profundidade com que mergulha na alma humana mexendo e expondo sentimentos de forma avassaladora e sem cair, em momento algum, no melodrama. Portanto, já deixo o alerta máximo de que é imprescindível pensar e analisar o que está em tela fazendo juntamente com as personagens um exercício que pode ser bem doloroso enquanto também é extremamente amoroso. Então, quem não é adepto a esses mergulhos intelectuais/psicológicos, penso ser melhor ignorar e partir para Velozes e Furiosos 10.


O genial diretor, produtor e roteirista britânico, Andrew Haigh, que já nos deu maravilhas como “Lean on Pete (Análise nº 855), 45 Anos (Análise 963), apenas para lembrar de dois trabalhos, segue aqui sua assinatura na qual prefere  temas íntimos, muito íntimos, desenvolvidos por um único protagonista    a partir de uma adaptação literária (Strangers), de 1987, criando uma espetacular e quase metafísica aura de transe para mergulhar de forma profunda em temas como tristeza, solidão, trauma e luto como não me lembro de ter visto em tela.


A composição deste dramático thriller prende e empolga o espectador com suas alternâncias emocionais, mantendo um ritmo perfeito enquanto transita pelo erótico, o assustador, o dramático com diálogos curtos, mas poderosos, onde podemos vivenciar em nosso íntimo os danos das opressões, os regastes de arrependimentos, expondo cicatrizes tamponadas que, no entanto, movem-se ciclicamente pelo resto de nossas vidas dentro de nossas recônditas vulnerabilidades.


Com esse roteiro hipnótico (cinema é sempre e só uma estória muito bem contada), Haigh trabalha com muitas câmeras de mãos e explora ao máximo os closes ampliando o eclodir das emoções muito bem amplificadas por uma trilha sonora mais que pertinente e brilhante que não só tonifica a estória como emociona na ligadura dos quatro únicos personagens inseridos numa cenografia de contrastes entre amplitude e interiores, todos pincelados em tons de mistérios.


Aqui fica impossível não desacatar com máximo louvor a atuação do Andrew Scott que se traduz numa delicadeza de tamanha envergadura que nos dá vontade de entrar em tela e ampará-lo tamanha a empatia transmitida, enquanto não menos brilham Paul Mescal, Claire Foy e Jamie Bell.


Essa inusitada experiência cinematográfica mistura com mãos firmes uma viagem dentro de uma mente atormentada fazendo um caleidoscópio multidimensional onde a realidade crua mistura-se com o imponderável fazendo com que All of us Stranger escape do individual açambarcando o coletivo afinal, quem de nós não sonha com um alguém que nos proteja e “mantenha os vampiros longe da porta?”


Por fim, com seu encerramento que não pretende trazer repostas fáceis ainda que repleto de humor gentil, #AllofusStranger, se configura numa obra profunda sobre nossa indiferença ao sofrimento dos outros, bloqueados que estamos por nossos inconfessáveis traumas conclamando-nos a incomensuráveis reflexões.



All of us Stranger também é sobre a música “Always On My Mind”; portanto ouça, relembre, emocione-se, pois, é no pequeno, no nosso íntimo que se encontram as imensidões limitantes e as galáxias exuberantes.





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