#SoundOfMetal é um texto dicotômico. Por um lado, explora muito bem o sensorial, fazendo o espectador vivenciar sonoramente a perda de audição de Ruben, e sua adequação à nova realidade. Por outro, constrói mal a sua dramaturgia, baseada em conflitos circunstanciais e superficiais, na maioria das vezes estabelecidos por explicações em diálogos, falhando em fazer o público se conectar com as personagens, os embates, e, por fim, com a história, além de não consubstanciar as ações da trama. Ruben, mesmo financeiramente quebrado, viaja à Paris atrás de sua amada, que, dada a evidência da trama, poderia estar em qualquer lugar, mesmo no mais caipira dos interiores americanos, e, por fim, sua conclusão é mais do que óbvia, e um tanto leviana, pois acaba por sugerir que a tentativa de recuperação de sua audição, objetivava retomar apenas o casal que ele formava com a personagem Lou. Há também falhas técnicas na evolução da perda sensorial.
A direção padece da mesma questão do texto, consegue muito bem imprimir as questões sensoriais, que, depois de um tempo, perdem a surpresa, a originalidade e a atenção, e falha em construir uma estória empolgante, apesar do potencial do tema para tal, tornando-se maçante e cansativo ao longo da projeção. Riz Ahmed erra na construção da personagem perdendo a audição, uma das primeiras consequências à surdez é o aumento, imperceptível para a personagem, orgânico da voz. O ser humano tem a necessidade de se ouvir, e conforme ouve menos, mais alto fala, e Ahmed mantém seu tom de voz inalterado ao longo do processo, especialmente no início, e sofre, com a superficialidade do texto, para criar uma personagem com a qual o público se identifique, apesar da contundência de suas circunstâncias. Olivia Cooke também não explora o potencial da personagem, mantendo uma tonalidade demais esmaecida diante da seriedade dos fatos. A fotografia é interessante, cenários e figurinos são funcionais, edição de som e música são excelentes, e edição, propriamente dita, competente.
Sound Of Metal almeja apresentar uma narrativa diferenciada, focando na visão sensorial da personagem, que funciona muito bem nos trinta primeiros minutos de projeção, e depois dilui o interesse em uma dramaturgia com mais som do que cores. Uma opção interessante para uma tarde chuvosa de domingo.
TRAILER