Analise 1.705
O Indicado do Chile para uma vaga em Melhor Filme Internacional no Oscar 2025, baseia seu roteiro em um assassinato real no Chile, em 1955, da reconhecida diretora chilena, Maite Alberdi que lança sua primeira ficção a partir da história real da escritora Maria Carolina Geel, que atirou a queima roupa no seu amante matando-o no salão de jantar do luxuoso Hotel Crillón em Santiago do Chile.
Com esse preâmbulo acreditamos que a trama irá pelo caminho do thriller policial investigativo, mas gradualmente, a narrativa se desvia indo para um drama muito íntimo com teor psicológico e forte tendência a retratar a situação das mulheres na sociedade chilena de então.
O fato da diretora e roteiro criarem uma personagem fictícia e inseri-la como protagonista para contar outra história dentro da premissa principal, é um artifício interessante que, no entanto, resulta em algo bastante insatisfatório e, ainda que seja elegante e parcialmente divertido, cria uma rota de desvio narrativo que esvazia o filme de toda intensidade levando-o para bem perto da insatisfação pela impossibilidade de relacionar-se com o registro histórico do começo.
Toda a situação da protagonista inventada se ver deslumbrada com o glamour da vida da assassina a ponto de ir, aos poucos, assumindo seu apartamento, seus pertences e estilo como uma espécie de fuga de sua vida sem graça, fica numa espécie de limbo psicológico entregue para o público elucidar. Seria um caso de obsessão doentia pela assassina, fascínio pela tranquilidade dela, seu requinte ou o respeito que lhe faltava em casa? Vai saber...
Então, em seus quase 90 minutos de duração com ritmo lento, essa experiencia vai se tornando tediosa em alguns momentos uma vez que, a vida e as motivações da assassina – personagem verídica e muito mais interessante - são praticamente deixadas de lado em prol de uma ficção que tenta ser uma abordagem engenhosa, mas resulta apenas em um melodrama doméstico ou fábula com cunho feminista.
Tecnicamente bem feito com primorosa reconstituição de época, cenografia minuciosa e figurinos impecáveis assim como as atuações, No Lugar da Outra (disponível na Netflix), nunca atinja qualquer potencial dramático por conta do seu roteiro imobilizado por uma ótica errônea e, ainda que o parco arco dramático da protagonista tenha seus bons momentos, são nas infinitas possibilidades de aproveitamento mais profundo da história verídica e nas motivações para o crime que, ao final, percebemos que é o que nos manteve muito mais interessados.
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