O representante do Peru no Óscar 2019, é uma obra tão simbólica quanto realista e, portanto, avassaladora sobre o abandono de octogenários a suas próprias vidas e sortes numa região andina, mas que pode facilmente ser transferida ou imaginada em qualquer lugar do planeta.
Utilizando-se da imensidão da belíssima paisagem em contraponto com o claustrofóbico cenário interior de uma cabana de pedras, direção e roteiro trabalham de forma incrivelmente sensorial para levar-nos gradualmente de uma sensação de liberdade infinita para uma atmosfera de isolamento opressor, repleta de solidões que vai configurando-se num angustiante sentimento de desamparo que nos leva a ter vontade de entrar na tela e interferir no andamento da estória.
Utilizando-se apenas de dois não atores como protagonistas que dialogam em dialeto local, o jovem diretor demonstra uma maturidade artística impressionante trabalhando com planos gerais que se alternam com estáticos planos frontais e laterais que vão gradativamente ficando mais fechadas no primeiro plano mantendo uma coerência estilística que reflete a autenticidade do neorrealismo.
Não, este definitivamente não um trabalho para amantes do entretenimento de ação uma vez que a perfeita morosidade situacional busca retratar de forma quase documental, costumes, tradições e ritos invocativos relacionadas à cultura andina enquanto uma referência a “Esperando Godot” do teatrólogo Samuel Beckett, brinca com as esperanças de um público que acompanha a universal e inevitável luta pela subsistência a cada dia mais difícil por conta do esmagador peso dos anos.
Único em tudo, #Wiñaypacha, essa realidade camuflada de ficção que ainda nos brinda com um desenho de som digno de nota, é uma dessas pérolas do cinema mundial que, infelizmente, pela universalidade temática e apuro técnico, pouco visto e pouco debatido será.
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