Analise 1.706

O indicado da Alemanha a Melhor Filme Internacional no Oscar 2025, é espetacular em todos os sentidos fílmicos e, desde agora, já o vejo na lista dos Top 5 no mínimo e, isso, para não atribuir, tão cedo, uma vitória que faria jus com todos os méritos.

Ao trazer as tensões e os embates das ruas de Teerã para dentro de um apartamento onde reside uma família de classe média alta dividida entre os pais que apoiam com veemência o regime teocrático do país por razões pessoais de sobrevivência com suas duas filhas adolescentes que questionam as notícias e versões apresentadas pela mídia televisiva em função do que assistem na internet, cria um verdadeiro e muito bem montado caldeirão fervente prestes a entrar em ebulição a qualquer momento.

Impressionante como o roteiro consegue condensar tamanha dramaticidade e tensões utilizando-se basicamente de apenas quatro personagens que sustentam uma trama de terror crescente de uma forma genialmente inovadora.

Não quero e não vou aqui entrar na descrição do roteiro e personagens para não estragar a experiencia de ninguém e, nem tão pouco, na história do diretor iraniano, Mohammad Rasoulof, nesse momento exilado na Alemanha para sua própria segurança física.

Centrando sua narrativa no período de 2022 quando uma onda de protestos irrompeu por todo o país por conta da morte de uma jovem que foi presa, espancada e assassinada por apenas usar um hijab impróprio, e na revolta basicamente estudantil combatida com máxima violência pelos mandatários do regime ditatorial, Rasoulof cria uma atmosfera interna de guerrilha – e denunciatória – sobre o cada vez maior descontentamento e revolta das novas gerações iranianas em busca de liberdades de expressões e um regime secular, retrógrado, corrupto, arcaico e cruel.

Durante a maior parte desse poderoso Thriller de quase três hora de duração, onde o roteiro examina e expõe as grandes tensões do país através de um contexto familiar, galvanizando para dentro de um apartamento toda uma paranoia repleta de pequenos detalhes que geram reviravoltas surpreendentes sempre permeadas com muito suspense.

Usando a alegoria da natureza das sementes da árvore do título que germina estrangulando a vegetação a sua volta, o diretor mantêm suas câmeras “escondidas” dentro do apartamento para burlar os censores do regime e isso colabora para criar um clima ainda mais claustrofóbico ( com muitos closes e hiper closes), principalmente para as mulheres da família – que representam todas as mulheres iranianas – permitindo a evolução gradual da desintegração familiar por meio das desconfianças; as mesmas que sentem e vivem os próprios funcionários internos do regime. Nada nem ninguém é confiável e o menor deslize é passível de interrogatórios, prisões e até condenações a morte.

O diretor ainda intercala imagens de filmagens verídicas das horrendas violências nas ruas transmitidas pelas redes sociais para contextualizar a situação no interior do apartamento através do exterior onde o embate entre a coragem da população e o medo do sistema andam de mãos dadas.

Tecnicamente irrepreensível, A Semente da Figueira Sagrada, caminha para seu final em cenas externas onde a situação emocional da família – e país - eleva o suspense para outro patamar incluindo uma perseguição de carros que, por sua vez, escala a paranoia trazendo a brutalidade do pai (regime) para o seio da família combatendo a atitude desafiadora das três mulheres contra o patriarcado numa sequência de tirar o fôlego.
Importantíssimo e Genial!

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