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  • Foto do escritorCardoso Júnior

1917 - Reino Unido-2020

Atualizado: 9 de ago. de 2020


Utilizando de forma brilhante a construção da narrativa da tragédia grega e do “In medias res”, partindo das experiências narradas por seu avô, Sam Mendes (Beleza Americana), nos dá uma vertiginosa aula de direção e roteiro sob ótica inovadora para revigorar o cinema de verdade, partindo do embate entre alemães e britânicos em um período pouco explorado pelo cinema: A Primeira Guerra Mundial.


Neste impactante épico sobre “a jornada” (o caminho do herói), há que se notar similaridades temáticas com “O Resgate do Soldado Ryan” e, até mesmo, com “Apocalypse Now” (vencer obstáculos para levar mensagem), mas trata-se de versão atual e muito pessoal do movimento de Catábase e Anábase (descida ao inferno e saída dele) feito também pelo Capitão Miller, no primeiro, e capitão Willard, no segundo, ou mesmo heróis de outros tempos como Odisseu, Aquiles ou mesmo Dante.


Aqui, em #1917, Sam Mendes em um duo magnífico com o diretor de fotografia Roger Deakins (Blade Runner 2049), inovam na forma de contar uma história (ok, ok, Inárritu já tinha pego parte deste caminho em “Birdman”) levando-nos literalmente pra dentro dela através da câmera que acompanha os protagonistas frontalmente, deslizando, escorregando, saltando, serpenteando por searas tenebrosas ou verdejantes, escurezas e clarões, arrastando-nos a um estado de imersão tão inexorável que é impossível não saltar do estado de relaxamento inicial para um abrupto engolfamento em um pico de tensão constante e reincidente até o final.


A perfeita ilusão de um plano-sequência uno (a colagem é quase invisível), é fundamental para aguçar-nos o sentido de urgência e nos mergulhar no ritmo frenético do cada vez mais tenso encadeamento da encenação que, ampliada pela enérgica trilha sonora, injeta-nos adrenalina a cada passo do enlameado e insalubre caminho potencializado pelo minimalista e admirável design de produção que da enorme credibilidade aos infindáveis elementos cênicos, potencializando obstáculos e espectros.


Misturando em doses exatas o privado e o bombástico , o realizador utiliza-se da dramaticidade para expor, mesmo em pano de fundo, a barbárie de jovens inexperientes arrancados de suas famílias para colocarem suas vidas a serviço de conquistas geopolíticas orquestradas confortavelmente bem longe do macabro teatro bélico.

Em suas quase duas horas de espetáculo , 1917, é ainda amparado por performances grandiloquentes dos quase desconhecidos protagonistas e participações modestas do conhecido elenco de apoio, construindo uma acepção nova para o gênero com virtuose que vai muito além de um filme de guerra. 1917 é uma experiência sensorial sobre os tortuosos percursos da estupidez humana.

Ps1: Estréia 23-02 -20.

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