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  • Foto do escritorFábio Ruiz

Dor e Glória – Espanha – 2019

Atualizado: 18 de ago. de 2020


#DorEGlória, o novo filme de Almodovar, e, talvez, o mais autoficcional, é uma viagem, literal e metafórica, pelo fluxo de consciência de Salvador Mallo, um escritor e cineasta estagnado por dores que o impedem de trabalhar.

O roteiro, belíssimo, totalmente não linear, encontra Salvador, homossexual na meia-idade, em sofrimento por dores, físicas e psicológicas, bloqueado, profissional e emocionalmente, quando um de seus primeiros trabalhos, Sabor, é restaurado e relançado, forçando reencontros que o lançarão à heroína e a viagens por seu passado. Fazendo uso ostensivo de “voice overs” conjunturais de Salvador, o texto rapidamente contextualiza o espectador que se insere nas idas e vindas entre o presente, o passado e o imaginário da protagonista, tecendo, sua trajetória. O texto, extremamente poético, em nada compromete a espinha dorsal da história que evolui organicamente, sem se destituir de encantos, algo Almodovar faz como ninguém. A história evolui até o clímax quando em Salvador, pela primeira vez, emergem desejos sexuais, em belíssima cena, com nudez muito bem fundamentada pela dramaturgia, portanto, justa. Almodovar, intencionalmente ou não, defende a tese de que a sexualidade é algo inato, arrebatador, e, principalmente, aleatório, e não construída, como diversas linhas de pensamento defendem. O autor ainda usa metalinguagem, reforçando a hipótese de autoficção.

A direção de Almodovar mantém o padrão já visto em outras obras, retomando muito da estética de Mulheres À Beira de Um Ataque De Nervos no presente ficcional. Antonio Bandeiras deixa, definitivamente, para trás trabalhos de gosto e qualidade duvidosos, em tocante e precisa atuação. Asier Etxeandia e Leonardo Sbaraglia, excelentes, adicionam ao protagonismo de Bandeiras, Penélope Cruz tem boa atuação, e Asier Flores, o infante Salvador, cativante, mantém a consistência do protagonista. A edição se destaca entre os critérios técnicos, garantindo a coesão nas passagens de tempo; fotografia, artes e música acompanham o padrão Almodovar.

#DolorYGloria, um belíssimo drama em torno da psiquê de Salvador, que encontra no passado e no presente, acertos de contas íntimos, narrando sua trajetória até o presente ficcional, com destaque para a descoberta de sua sexualidade. Imperdível.

TRAILER

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