
A série da HBO divide em cinco episódios o pior acidente nuclear da história, com ênfase nas decisões políticas e os efeitos na vida da sociedade que reverberam até os dias de hoje.
Sucesso de público e crítica, a série retrata um clima angustiante, sombrio e desconcertante que faz muitos a qualificarem como terror. Ao trabalhar com guerra de informações, vigilância e ocultação da verdade, a produção aproxima-se do mundo real e incorpora ao drama humanitário elementos de ficção científica e puro terror.

A opção da produção, sob direção de Craig Mazin (Todo mundo em Pânico), por mostrar de forma realística a degradação física dos que sofreram o impacto imediato da radiação, colabora com esta análise. A usina que abrigava o reator que explodiu, se localizava em Pripyat na Ucrânia, cidadezinha com cerca de 50 mil habitantes. Mas o material radioativo afetou países vizinhos como a Bielorrússia, Escandinávia e a Rússia. Pripyat, hoje, é uma cidade fantasma.

Não é por adotar o tom dramático que a série se afasta da sua dimensão realista, pelo contrário. O tom documental da reconstituição não deixa dúvidas. A encenação da cultura e atmosfera soviética, além do irrepreensível trabalho do elenco mostra o excepcional trabalho de pesquisa.
O roteiro é elaborado a partir de um recorte temporal de 2 anos. Se inicia com o suicídio de um personagem e volta no tempo até o dia 26 de abril de 1986, quando o reator explode. Logo somos lançados do misterioso suicídio, para o acidente, mas rapidamente os dois eventos se conectam.

A narrativa é estabelecida através de quatro personagens principais que retratam os efeitos do acidente nuclear por dimensões diferentes: A dimensão técnica através deValery Legasov (o experiente Jarred Harris de The Crow) físico nuclear encarregado da comissão do governo por investigar e dar soluções para a catástrofe. A dimensão política, representada por Boris Shcherbina (o sempre competente Stellan Skarsgård de Dogville), vice-ministro que lidera a comissão. O olhar externo personificado em Ulana Khomyuk (muito bem escalada Emily Watson de Ondas do Destino), única personagem ficcional, mas que representa os demais técnicos dos outros países que registraram radiação, após a catástrofe. E finalmente, Lyudmilla Ignatenko (a boa atriz irlandesa Jessie Buckley), esposa do bombeiro Vasily, um dos primeiros a chegar ao local completamente desprotegido e exposto.

Assim, acompanhamos o andamento e os efeitos da tragédia, com o pano de fundo do “espírito soviético”, um nacionalismo orgulhoso que se expressa em duas facetas. Por um lado, a necessidade de projetar força e poder, no cenário da guerra-fria, gestou a demora a admitir as falhas, a propaganda que omitiu a real proporção do evento e a ocultação de fatos que poderiam ter evitado o a tragédia. Por outro, a coragem e noção de coletividade das pessoas que ajudaram na contenção do desastre, pois estavam dispostos a se sacrificar para garantir que outros não morressem.

Não se trata de uma crítica ao regime soviético, mas da condução política de uma catástrofe humana. Sem lançar questões, mas expressando várias dúvidas que ficaram sem resposta e se atendo aos fatos, a série progride e aprofunda o tom sombrio que um acidente desta proporção precisa.
Foi uma calamidade humanitária e a produção assume um ar crítico e dramático para que seja lembrada e jamais se repita.
Tons escuros, cenas fortes e chocantes.Com elenco competente, direção cautelosa e explícita, sem exageros narrativos.#Chernobyl era uma história esperando ser bem contada.
Esta série tem tudo para ser a produção do ano na Tv.

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