#OPesoDoPassado, baseado no roteiro original de Phil Hay e Matt Manfredi, é um suspense daqueles que não se vê há tempos. O espectador pode até subestimá-lo, pois parece seguir as receitas de bolo da literatura especializada. Contudo, surpreende não somente com reviravoltas narrativas, mas também lineares, fazendo o espectador pensar que está vendo uma coisa, quando na realidade vê outra, tornando o seu final digno de filmes do gênero.
O texto opera em diversas temporalidades, mas mais clara e intensamente o presente ficcional, onde Erin Bell é assombrada pelo passado quando recebe em sua correspondência uma nota marcada fruto de um roubo do qual tomou parte como policial infiltrada, a segunda linha temporal relevante, que é, na dosagem e momentos exatos, revelada aos poucos em “flashbacks” construindo a trama em que ela e Chris, inseridos no mundo do crime, tentam desmantelar uma quadrilha de drogados ladrões de banco.
Enquanto Erin busca derrubar o grupo no presente ficcional, ainda se constrói, com muita sensibilidade, a relação atípica entre ela e sua filha rebelde, Shelby. Não há aleatoriedade nas interseções lineares, todas são muito bem planejadas no texto e realizadas pela diferenciada direção de Karyn Kusama que imprime tensões pungentes em sua condução que é seca, quase descolorida e bem arquitetada. Nicole Kidman está, realmente, em sua melhor atuação, impressiona o trabalho da atriz que, descontruída, constrói nuances bem diferenciadas entre as linhas temporais, que podem ser usadas para identificar a linearidade corrente. Sebastian Stan, o Chris, se destaca concedendo, com delicadeza, humanidade, dever e altruísmo à personagem com muita precisão. Tatiana Maslany, a Petra, irreconhecível, conduz-se muito bem nas tensões cênicas, adicionando verossimilidade ao enredo. O elenco coadjuvante está, por completo, em muita sintonia, criando um produto bonito de se ver, destaque para Jade Pettyjohn, a Shelby, filha de Erin.
A fotografia soma, demasiadamente, às tensões, idem a excelente e inquietante música, e a edição faz funcionar perfeitamente os saltos lineares que são revelados no quarto final da projeção.
Um incrível e humano suspense, com diversas reviravoltas críveis e um desfecho inesperado é o que traz o excelente O Peso do Passado, cujo título original “Destroyer” é muito mais adequado. Imperdível.
TRAILER