Premiado pelo júri de Cannes/2018 e dirigido pelo polêmico Spike Lee que roteirizou a partir de uma história real de 1978, eis um trabalho importante para o mundo atual por seus discursos poderosos sobre o racismo nos EUA- sem nenhuma cena de violência física- de 1915 até a era Trump.
Partindo de uma premissa deliciosamente absurda, porém real, o roteiro, cria um nervoso suspense policial que se aproveita inteligentemente dos pontuais momentos de comédia para não só levantar, mas criticar situações de ambos os lados da questão, trazendo para o debate mental do expectador não apenas a linha da preservação da cultura européia de superioridade ariana, abrangendo o contraponto da também radical postura do movimento Black Power que configuram o ponto fulcral do longa.
Com direção e roteiro que se permitem inserir várias e importantes referencias de outros filmes de época para embasar temas sócio-políticos do momento atual, em meio a uma tensa e interessante trama de ação dos anos 70, expondo perigosas apologias ao ódio inter racial de ambos os lados durante os 120 minutos, amparados por um elenco de peso ainda que a missão central perca um pouco de força, diluindo-se em algumas informações subjetivas, mas nunca na relevância conceitual de apresentar-nos seitas impregnadas de ódio, mas muito bem camufladas para conquistarem o poder político e dominante sobre todos nós.
Com impecável reconstituição de época nos figurinos setentistas e, com uma fotografia que nitidamente separa os vários espaços da película alternando do desbotado ao marrom-esverdeado e, trilha sonora cativante,#BlacKkKlansman com seu texto sagaz que costura drama histórico, comédia repleta de criticas políticas, excelentes atuações e direção mais que competente, cumpre com uma das funções do verdadeiro cinema que é ser porta voz e arauto - através do incômodo - das minorias estigmatizadas através de fatos históricos com devida licença poética, de forma leve visualmente, gerando um trabalho genial que deve ser espalhado pelo o mundo por sua facilidade em provocar o riso, mas o riso nervoso de quem percebe não estar mais assistindo uma "fantasia", mas batendo de frente com o aqui e agora.
Que venha a temporada de premiações!
TRAILER