A produção brasileira para o Netflix dirigida por José Padilha e roteirizada por Elena Soares baseada no livro Lava Jato: O Juiz Sergio Moro e os Bastidores da Operação que Abalou o Brasil, de Vladimir Netto, é um Thriller policial tão interessante quanto assustador ainda que transite pela pretensa ficção para contar o começo da Operação Lava Jato em sua primeira e já tão polêmica temporada de oito capítulos.
Padilha, que gosta de colocar seu foco visual sobre recentes fatos da história, arrisca-se de forma muito corajosa ao penetrar no buraco negro da decomposição das instituições e devassidão dos egos inflados emprestando-lhe sua visão autoral dos fatos, revelando um universo abjeto de forma muito séria, inteligentemente sarcástica, recheada de humor sardônico no caleidoscópio da corrupção endêmica em todos os setores e camadas da população: Do alto ao baixo clero, dos campos aos palácios, do vício arraigado dos poderosos às pequenas atitudes cotidianas, do agora e no desde sempre. Genial!
Ok que há evidente didatismo na narrativa (no conhecido recurso da voz em off), e algumas frases de efeito sejam muito repetidas ( outras inesquecíveis), mas como é produto a ser vendido para o mundo todo, o método torna-se justificável e não chega a incomodar tanto quanto o desenho de som que, em muitos momentos, necessitaria de alguma legenda para que entendêssemos na íntegra algumas frases principalmente as proferidas pelo sempre ótimo Selton Mello. E, no campo das atuações, todo o elenco mostra destreza e convencimento nas performances com um evidente destaque a composição que faz Enrique Díaz para o seu “doleiro” que, de tão cínico e cafajeste acaba por despertar empatia no público.
Passando por uma elipse temporal de 10 anos e brincando com uma gama de personagens que através de um inteligente e bem feito processo metamórfico- caricatural, aparentam em muito com as “personas” originais e, com uma irônica e deliciosa troca de nomes, vai decupando de forma muito eficaz a amplitude dos mecanismos que juntam peças como: povo, doleiros, empreiteiras, políticos e governo federal, fechando um círculo de entendimento – causa e efeito- através de tiras picotadas da memória do espectador.
Estruturalmente, “O Mecanismo” tem uma edição rápida e perfeita com trilha sonora mais que apropriada ao seu contexto, fotografia um tanto quanto chapada que é compensada pelos bonitos Planos Gerais das cidades e uma câmera hábil nos closes fazendo dela uma série obrigatória para todos os brasileiros que estão acordados e, naturalmente, ansiosos (lamentavelmente), pela segunda temporada. É ver, rir, aplaudir e chorar.
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