
O cinema mundial está repleto de histórias de amores de verão, de histórias sobre o primeiro amor, histórias de amadurecimento dentro da temática LGBT e não faltam inúmeros exemplos de obras de altíssima qualidade trilhando esse caminho e outras não com tanto apuro, mas seguindo na mesma direção e, os exemplos são tantos que evitaremos a tentação de fazer uma lista ou mesmo comparações.
#CallMeByYourName que tem tido enorme destaque nos festivais e que só chega oficialmente ao Brasil em 2018, baseado no livro de André Aciman, aposta firme e forte no ritmo pacato dos anos 80 centrando sua ação no bucólico cenário do interior da Itália. E é justamente essa aposta, na pertinente calmaria narrativa, que prejudica seu desenvolvimento uma vez que, as belíssimas tomadas poucas vezes são acompanhadas de força dramática suficiente para sustentar o enredo em suas longas duas horas e doze minutos, demorando muito a engrenar e, fatalmente, tropeçando no ritmo e numa cadencia monocórdia.
Ainda assim, não há dúvida que o trabalho contém inúmeros méritos sensíveis que repousam da sutileza e na delicadeza de uma mise-en-scène onde as emoções são muito mais interiorizadas e expressadas em nuances através de toques e olhares, evitando muito bem os clichês de gênero mantendo um clima de sedução crescente onde diferentes e ambíguas doses de admiração, tensão, desejo e erotismo e sexo se equilibram de maneira serena e genuinamente elegante sem olvidar de apresentar inúmeras camadas humanizadoras dos personagens em suas jornadas de descobertas e aceitações.
As muitas cenas com longos planos dos personagens em belas paisagens buscam refletir a cotidiana e calma passagem do tempo, alinhado aos belos enquadramentos e a bonita fotografia somada a uma trilha sonora mesclando o pop de época e os clássicos, abrilhantam a obra que peca, como já dissemos no trabalho de edição que poderia ser mais enxuto, mas o pequeno elenco central entrega um trabalho naturalista e competente com nítido destaque para o novato Timothee Chalamet e Michael Stuhlbarg que cresce nas cenas finais por conta de um diálogo realmente memorável que provoca e cria uma abrangência universal à obra e ao todo.
Assim, “Call Me By Your Name” com sua ausência de estereótipos pode causar impacto em cinéfilos menos conhecedores da amplitude do cinema LGBT de qualidade, resultando em trabalho gentil, bonito (principalmente na cena final), tecnicamente muito bem realizado, até em suas referências, mas que, se não fica devendo a outros trabalhos que trataram dos mesmos temas, também não os supera e nem inova.

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