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  • Foto do escritorCardoso Júnior

The Handmaid’s Tale – 1ª Temporada — EUA - 2017

Atualizado: 18 de ago. de 2020


Essa adaptação para TV do romance O Conto da Aia, de Margaret Atwood, escrito em 1985, vencedora do Emmy de Melhor Série Dramática, melhor atriz, melhor atriz coadjuvante, melhor direção, melhor roteiro, produzida pelo serviço de streaming Hulu, ainda não disponível no Brasil e que já foi retratada no longa metragem “ A Decadência de uma Espécie” (1990), é uma ficção futurística que reflete o mundo atual de maneira impactante e assombrosa! Com foco centrado na perigosa mistura entre religião e Estado e nos desvarios insanos do extremismo religioso quando alça o poder político sobre as massas, manipulando “escritos sagrados” à sua conveniência para justificar um sem número de barbáries e atentados contra os direitos mais elementares, deixa o terreno do ficcional, entrando com toda força na área das distopias que caem sobre nós (cidadãos informados), como uma bomba ao nos lembrar, a cada episódio, que situações similares que pensávamos estar distantes de nós ou no passado da humanidade, ainda existem e persistem. Como seria de esperar, dentro de um regime teocrático fundamentalista onde o sexo masculino detém toda superioridade e poder, as opções sexuas que estejam fora da procriação e as mulheres perdem todos os direitos igualitários sendo reduzidas a mero instrumento de reprodução. E, não, não vamos fazer pouco da inteligência de nossos leitores, elencando ou explicando quais países ou lugares no mundo, a submissão / escravidão das mulheres e perseguições de gays (guardadas as devidas características regionais), fazem parte do cotidiano. Os inteligentes e persistentes closes na protagonista (a espetacular Elisabeth Moss), criam uma aura de angústia claustrofóbica opressiva latente uma vez que, impossibilitada de usar mãos e corpo, é obrigada a traduzir todas as suas infinitas nuances interpretativas através dos olhos azuis arrastando-nos junto com sua alma para um misto de complexas emoções que vão desde a perplexidade, revolta e coragem á incomensurável angústia intermitente de uma cena à outra; de episódio a outro sem refrigério algum em um mundo onde o mais banal dos prazeres é proibido. Tendo elenco de suporte mais que competente, merecem destaques as atuações da obstinada, ora cruel, ora bondosa Yvonne Strahovski, de Ann Dowd com sua crença férrea que nos faz odiá-la, Joseph Fiennes com seu egoísmo hipócrita e Samira Wiley pela força de resiliência; enfim, todo elenco com grandes oportunidades de exibirem suas personificações de vítimas e algozes do sistema opressor. Tecnicamente, The Handmaid’s é perfeita em seu apuro técnico que privilegia o contraste das cores e da luzes em tomadas requintadas, criando uma identidade visual para a série muito específica também nos figurinos, nos planos fechados, na incrível contemporaneidade das trilhas sonoras, na montagem ziguezagueando entre o antes e o agora com cortes abruptos e, na calmaria sempre incômoda e dolorida das narrações em off. Difícil, muito difícil analisar uma série com 10 episódios de uma hora cada, sem nos alongarmos em demasia, evitando a todo custo os spoilers, justificativas ou interpretações, mas essa tarefa torna-se menos inglória na medida em que esse conto de horror e suspense que joga habilmente nas entrelinhas e frestas de esperança, é uma série para ser sentida no âmago do espectador permitindo que cada um decupe seus simbolismos e, prudentemente, se assuste e entre em alerta máximo com a velocidade com que essas abominações sociais podem sim desabar sobre nós como um muro separatista ensanguentado. Embora o conceito em si já tenha sido abordado pela literatura e cinema em obras como “1984”, “Farenheit 451”, só para citar dois grandes exemplos sobre a crítica política x social, o prisma e a amplitude da lente de The Handmaid’s Tale conferem à série uma dimensão avassaladora, certeira como fecha no alvo do momento mundial sob o Olho Dele. Que bendito seja o fruto do cinema de conteúdo e que venha a segunda temporada para que o maior número possível de pessoas possa assistir e entender esse gigantesco alerta sobre os perigos dos fanatismos excludentes que rondaram e entrevaram a humanidade, agora, temerosamente, mais que sempre...

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