Eis mais um caso de literatura de enorme sucesso transposta para o cinema e, como não lemos o livro, segue apenas a impressão que o filme nos deixou sem entrar no terreno das comparações.
Algo que já o recomenda por antecipação é a direção de Tate Taylor que já nos brindou com trabalhos maravilhosos como "Histórias Cruzadas" e "Inverno da Alma" e a enorme curiosidade de saber como roteirizar 375 paginas de forma concisa e precisa em apenas 1 hora e 50 minutos.
“The Girl on the Train” opta por colocar a protagonista como narradora de sua história ao mesmo tempo em que vai se tornando uma investigadora de si mesma na busca não só de auto-ajuda, como de descobertas e fortalecimento humano.
Este fio condutor funciona muito bem embora traga consigo a necessidade de inserir em demasia o já cansativo recurso dos flashbacks que quebram, em muitos momentos, a boa linha de construção do suspense com a variação do tempo narrativo criando oscilação de ritmo ainda que tal recurso seja claramente voltado para revelar boas surpresas na composição do nebuloso quebra-cabeça emocional/psicológico.
Alguns recursos que a direção opta para produzir maior peso dramático para a protagonista, parecem um tanto quanto “infantis” como o uso repetitivo do “slow motion” e de imagens destorcidas para reforçar um estado etílico de confusão mental buscando uma imersão que acaba apenas na redundância óbvia da imagem.
No entanto, o Thriller em seu emaranhado investigativo com boas doses de suspense e mistérios, alça outros patamares abrindo o leque de apenas mais uma investigação criminal para deslocar o epicentro da trama para o drama da questão da violência / abuso psicológico no universo feminino, fazendo uma interessante conexão entre três personagens que, embora quase nunca juntas, partilham do mesmo terror.
Para que todo o caleidoscópio cênico funcione de forma convincente (embora demore alcançar o ótimo clímax no último ato), está a fortíssima performance de Emily Blunt que deixa transparecer a olhos vistos uma portentosa evolução de sua personagem e do excelente elenco de apoio.
Assim, “#TheGirlontheTrain” perde a oportunidade de consagrar-se como o melhor suspense de 2016, mas vai muito mais longe que a simples proposta de ser mais um Thriller criminal, cabendo a pergunta se conseguirá atingir o retumbante sucesso da obra literária. Mas isso só o tempo nos dirá.
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