Tendo sido uma grande sensação no Festival de Sundance e Cannes/ 2016, este “indie” com aspectos de road-movie apresenta um roteiro que, embora não seja exatamente uma novidade temática do cinema, é originalíssimo em sua proposta sociocultural e necessário às reflexões sobre nosso atual estilo de vida.
Partindo de um plot simples: viver com menos é viver melhor, a narrativa sobre a família que opta por um estilo de vida bastante alternativo e mais próximo as necessidades básicas do ser humano, fugindo e até mesmo execrando o sistema / comportamento das massas geridas pelo capitalismo consumista e opressor, é genial.
Assistir o sempre ótimo Viggo Mortensen educando pessoalmente seus seis filhos, em uma floresta, com sessões de leitura de clássicos da literatura, conversas sobre teoria quântica, marxismo dialético, música, exercícios, caça para a sobrevivência e escaladas, no mundo atual da “matéria e dinheiro compram a felicidade” é mais que inusitado.
O “anarquismo” proposto pelo roteiro para seus personagens com suas quebras das regras das culturas de massa e a subsequente inversão de valores é o ponto alto de um roteiro que ainda transita pelo sincretismo de como lidar com a perda de um ente querido.
Repleto de diálogos inteligentes, humor no mais alto estilo, bela fotografia, figurinos, trilha sonora e atuações cativantes, tem outro mérito que é o de não tomar partido durante os choques culturais, abstendo-se de satirizar ou apontar como certo ou errado apenas um dos dois lados pelo qual transita com leveza estética e ideológica.
Ok que é perceptível algumas discretas inverossimilhanças no roteiro, mas quando percebemos estes pequenos detalhes, já estamos arrebatados pela dialética da obra e emocionalmente envolvidos com os percalços por que passam as crianças.
#CaptainFantastic, choca e toca e sacode o espectador não pelo choque de culturas expostas, mas sim pela triste constatação de que perdemos o rumo de nossa civilização ao trocarmos nossa feliz cidade da simplicidade orgânica pela falácia da felicidade material desenfreada.
Captain Fantastic é uma obra tão urgente quanto necessária às cabeças pensantes e para o gado tangido pelo idealismo vendido barato para as massas replicantes do modelo capitalista; inclusive cinematográfico.
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