Continuando nossas análises sobre os 16 filmes baseados em histórias reais que chegaram ou ainda chegarão às telas em 2016, fomos ver Belle. Com roteiro, nem tão bem amarrado assim, sobre a posição da mulher negra na preconceituosa sociedade Inglesa do século XVIII e, aproveitando para falar sobre o “caso Zongo” estopim da abolição da escravatura na Inglaterra, utilizando de vários eixos dramáticos e muitas liberdades poéticas, eis um interessante e oportuno trabalho que, infelizmente, tangencia questões históricas sem mergulhar profundamente em nenhuma delas. Com requintado designer de produção que reconstrui de forma mais que competente o período histórico, a direção opta acertadamente ao trazer para o foco narrativo uma protagonista mestiça, porém pertencente à nobreza, mas erra a mão ao inserir algumas camadas de romance e ação que a insistente trilha sonora tenta evidenciar tornado-se quase inconveniente. Com ótimo elenco (destaque para Tom Wilkinson), em convincentes interpretações, belos cenários e figurinos primorosos, este “drama” histórico sobre sociedade de castas, preconceito, transgressões e transições de idéias, resulta em um bom cinema de gênero, ainda que deixe a desejar como obra cinematográfica, torna-se válido pela inscrição plástica- histórica contida. Ainda assim, lamentamos que no Brasil não tenha, se quer, chegado aos cinemas e saltado direto para as locadores e serviços stream, já que é uma rara oportunidade de revisitar um momento histórico que trouxe grandes revoluções libertárias para o mundo todo.
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