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Foto do escritorCardoso Júnior

Cabelo Ruim- Venezuela-2015.

Atualizado: 14 de ago. de 2020


Aparentemente, não teria relevância alguma, é cerzido com linha forte unindo e expondo partes de temas muito mais complexos. A percepção de uma criança de que tem um cabelo “ruim” e, sua determinação para alisá-lo tornando-se igual ao modelo de pessoas bem sucedidas, vai nos mostrando, sem nenhuma panfletagem, uma severa crítica política, social e desnudando uma gama de preconceitos incutidos pela ignorância cultural forjada na cabeça de pais vitimados por um sistema social. A própria cenografia, recorrendo aos espaços urbanos opressivos e miseráveis, por si só já nos conta muito sobre o modelo cultural no qual a simples narrativa vai tornando-se grandiosa e, onde, um simples desejo infantil torna-se uma quase brutal forma de preocupação, preconceitos e desamor. Inteligentemente centrado em duas visões de mundo opostas, mãe e filho confrontam-se num embate entre carinho e brutalidade, mas sem apelos ao pieguismo ou vitimizações. Como se enquadrar em um mundo adulto onde a masculinidade é traduzida pelo amor às armas se você prefere cantar? Como achar espaço neste mundo que venera e idolatra a beleza física se você é gorda? As fortes questões captadas por uma câmara impiedosamente realista e traduzidas por ótimas interpretações, fazem deste trabalho inteligentíssimo e elegante ao mesmo tempo, mais que um ponto de reflexão; é a vida como ela é, onde a brutal luta pela sobrevivência exige que sonhos sejam banidos, por menores que sejam, diante do sistema opressor. “#PeloMalo” é um grito do cinema latino da melhor e da maior qualidade!

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