Sonhos – Noruega - 2025

Analise 1.758

Dreams, o grande vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2025, o que não é pouca coisa se levarmos em consideração os importantes trabalhos que concorriam com ele, é o último filme da conhecida e admirável trilogia, Sex, Love (ambos comentados aqui), estuda a importância das memórias afetivas que guardamos ao longo das nossas vidas utilizando-se da literatura como ponto fulcral na pavimentação de nossas experiências amorosas que acabam por moldar o nosso ser e a forma com que buscamos, encaramos, experienciamos, ganhamos e perdemos o amor.

A equação proposta pelo diretor, Dag Johan Haugerud, (um dos mais importantes realizadores da Noruega) é formatada dentro do realismo cru ao analisar etapas que vivenciamos, da adolescência a velhice, dentro do repetitivo circuito de: apaixonar-se, fantasiar o sentimento, deixar-se consumir por ele, regozijar-se, sofrer, festejar, desejar com todas as forças, desiludir-se, separar, cair no precipício da dor, seguir em frente e recomeçar com outrem, ávido e refém de queimar-se novamente afinal, “ O que você é se ninguém te quer? Você não é ninguém!”

Centrando o foco nas pulsões sentimentais das novas gerações, sob uma ótica queer, o realizador trás como protagonista uma bela jovem estudante de 17 anos (Ella Øverbye, em brilhante interpretação), que se apaixona platônica e secretamente por sua professora e resolve registrar com intimidade e maestria literária todos os momentos e sentimentos vividos criando um diário que podemos vivenciar em tela (através de uma narração em off magnetizante) até que sua mãe e avó o leem gerando profundas reflexões e debates sobre suas próprias experiencias amorosas no passado e suas oportunidades perdidas de vivenciarem um amor tão genuíno.

Elas, eu e os espectadores catapultados e capturados por lembranças nostálgicas.

E, aqui, deixo um lembrete para um público carente de cinema de ação: Quem só consegue gostar de tiro, porrada e bomba, não veja, pois em Dreams eles existem sim, mas acontecem dentro das cabeças dos personagens uma vez que, a trilogia aposta alto nos diálogos e em Sonhos eles são longos, espirituosos e deliciosamente muito bem construídos traçando um paralelo efetivo com a literatura, transformando as sensações em texto, valorizando ao máximo tudo que é dito.

No mais e por fim, a fotografia é genial apostando em um colorido expressivo que esquenta muito nas sequencias imaginativas ou sonhos uma vez que é construído para ser sentido com sua mise en scène envolvente que nos provoca lembranças aconchegantes tocando nossa alma como nosso primeiro amor.

TRAILER