Quais os filmes que você já assistiu que conseguem transpassar a barreira da introspecção da própria solidão, buscando ares de terror existencial?
O Farol consegue, ainda que nitidamente carregado por seus protagonistas, transpor essa carga de mistério crescente, na mesma proporção em que o desenvolvimento da narrativa, atrelada a atuações, ouso dizer, inefáveis, transbordam todo o filme em si.
Ainda que baseado em uma tragédia real acometida por dois faroleiros, em 1801, o que transforma esse tenso, lento e cansativo roteiro, ao final, em algo literalmente teatral -agradeçam Dafoe por isso- é sua capacidade de derrubar o baluarte da elucubração com tanta força, que o restante são apenas as interpretações. Claro que, isso não se aplica a perfeição plástica em que o suspense é construído. Abarcado não só por uma trilha sonora que muito certamente compõe os ambientes e situações com maestria, como também as mixagens sonoras e efeitos, transformando tudo em algo mais vívido, real. A fotografia que é forte e marcante através dos brancos estourados, em que as silhuetas dos cenários só vão tomar forma, e isso definitivamente não é um defeito, através da iluminação dramática que se sobressai mesmo em um “ambiente sem cor”, juntamente com o enquadramento claustrofóbico, também são peça chave na construção de uma narrativa que, certamente alegórica, beira o mítico/místico.
Willem Dafoe, aqui, ensoberbado e galantemente maestral, da uma aula em seus monólogos e “coreografias” cênicas. Além de Robert Pattinson - em sua melhor performance, talvez? - conduzir os ares de sanidade que, aos poucos, vão abandonando-o. Com tamanhos personagens o choque era inevitável, que quando acontece, o que ocorre é um espetáculo a parte.
De toda forma, O Farol só funciona como funciona por causa de suas encenações, e claro, de uma atmosfera extremamente carregada e impulsionada por um sufocante preto e branco que acompanha o filme do início ao fim.
Um filme de terror? Não sei, realmente não sei como definir. O mais novo filme de Robert Eggers (A Bruxa) peca em aspectos narrativos, assim como uma outa produção, também recente da A24 (Midsommar) por construir uma atmosfera mística e sombria, mas que não convence. Ainda que aqui os assombros e medos sejam bem mais reais que no filme de Ari Aster, na medida em que se manifestam através de seus segredos, não são suficiente para torna-lo o “suspense” do ano, mas sem sombra de dúvidas, é o suficiente para ensinar aos amantes do chroma key, como se atua de verdade.
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