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  • Foto do escritorCardoso Júnior

O Casamento – Kosovo – 2018

Atualizado: 15 de jul. de 2020



O olhar do cinema é tão magnífico que nos permite não só descobrir histórias verídicas que jamais teríamos conhecimento bem como países que mal conhecemos o nome nem seu povo e costumes. Esse é o caso do Kosovo, localizado no sudeste Europeu, na região da antiga Iugoslávia com população é de 1,9 milhões de habitantes repartida entre 40 mil sérvios e 80 mil albaneses, divisão étnica irreconciliável que se opõem as vezes de forma violenta.

Assim, a premiada diretora iugoslava, Blerta Zeqiri, em seu primeiro longa constrói sua narrativa permeando a Guerra do Kosovo sem fixar-se nela, mas planificando hábitos, costumes e tradições de uma sociedade através de um núcleo familiar e de amigos centrado numa relação pré-matrimonial extremamente realista e até universal como prelúdio do desenvolvimento, em paralelo, da essência e dos bastidores de uma estória de amor execrada socialmente.

Utilizando-se e desdobrando a premissa de “esperar por alguém que nunca se conheceu inteiramente”, o roteiro, ainda que pareça inicialmente desequilibrado em sua estrutura, trabalha com várias ramificações do sentimento do medo, construindo personas interessantes explicitando motivações que geram ações decisórias na construção de seus futuros.

É no arcabouço do roteiro ( muito diferente do padrão hollywoodiano), que encontramos sutis retratos de uma sociedade machista ao extremo, que relega mulheres ao papel de esposas e mães enquanto a repressão as relações homoeróticas beiram a violência e a homofobia explicita torna essa forma de amor algo extremamente perigoso de ser vivenciada.

O recurso dos flashbacks, oportunamente enxertados, chegam pra contextualizar o nascimento e até a alegria dos inícios das relações amorosas e é neles que inicia-se a palpável química desenvolvida pelo trio de renomados atores locais lidando com o choque de três seres adequando-se aos valores locais para estabelecer um futuro a despeito de suas reais vontades e necessidades efetivas

Com um interessante trabalho de câmera de mão, fotografia dinâmica e trilha pontuando sonoridades locais, #TheMarriage, candidato do país no Oscar 2019, trilha pelo difícil caminho do hiper-realismo resultando num trabalho humanista que ousa explorar intimidades, provocar reflexões sobre pessoas que necessitam inventar uma vida de aparências para atender regras de uma sociedade conservadora que afoga suas frustrações no consumo etílico.

Sim, #Martesa, infelizmente, teve quase nenhuma divulgação por aqui, mas é como uma estranha ostra que contem pérola rara no interior.

Vale muito conhecer!





Ps1: Disponível em VOD





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