É incrível como o cinema “mundial” existe não só para nos informar, mas também para nos aculturar muito além do sabido e ou divulgado nas mídias. Este é o caso do incrível #NightoftheKings que entrou com todos os méritos entre os 15 semifinalistas ao Oscar 2021.
O segundo longa-metragem de ficção do diretor marfinense Philippe Lacote (que já andou pelo Oscar em 2015), é um ambicioso projeto que mistura realidade, história, folclore com componentes do realismo mágico e até do sobrenatural para construir um potente drama claramente inspirado na mais famosa obra da Literatura árabe, o famoso “As Mil e Uma Noites”, com seu mosaico de violências e magias trocando Sherazade por um jovem detento recém ingresso na tenebrosa prisão de La Maca, - nos arredores da maior cidade do país, Abidjan - construída para 1.200 prisioneiros, contendo cerca de 5.000 deles.
É neste sinistro cenário que a intricada (porém muito compreensível), narrativa foca na disputa das duas facções rivais disputando o comando do local – numa clara referência a guerra civil no país de 2002 a 2007 – enquanto o protagonista é obrigado a contar uma estória até o amanhecer para uma enorme plateia carcerária ou será executado antes do amanhecer e, é nesse genial plot de histórias dentro da história que, com inúmeras referencias e simbolismos, se dobram e desdobram em várias camadas dimensionais e atemporais.
Assim, #LaNuitDesRois, com sua mais que perfeita mescla de cinema e teatro com geniais pantomimas e canções, sua fusão do antigo com o moderno, a incrível iluminação que alterna o tremulante ocre dos interiores com a luz natural dos exteriores demarcando eras, a rápida incursão do CGI, os figurinos de época, trilha, mixagem de som e, até mesmo uma citação ao Brasil e ao filme “Cidade de Deus”, dentro do contexto de jovens sobrevivendo no mundo do crime por falta de opções, tudo isso e muito mais faz de #NoitedosReis, com sua ‘pegada” Shakespeariana, a composição de uma cinematografia épica e arrebatadora onde roteiro, palavra, imagem e estórias ramificadas conjugam-se em extraordinária coesão artística.
É ver pra nunca mais esquecer.
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