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  • Foto do escritorCardoso Júnior

MONOS – Colômbia – 2020

Atualizado: 19 de jan.


É perfeitamente natural que um público tão catequizado pelo formato do cinema hollywoodiano ao se deparar com um título colombiano ou torça o nariz ou o ignore com certo desdém mesmo quando este tenha sido o representante do país no Oscar 2020 e traga no currículo o prêmio master do Festival de Sundance 2019. Grande engano! Até porque a Colômbia já nos deu o espetacular “O Abraço da Serpente” (comentado em 27-04-16), e o incrível “Pássaros de Verão’ (comentado) obras que entram para o terreno do cinema magnífico ainda que desconhecidas ou descartadas por esse mesmo público.

E esse, infelizmente, é o caso do espetacular #Monos que, ao fugir de roteiros ‘explicadinhos”, formatos facilitados e de estéticas padronizadas por não pretender em momento algum o comercial posto que é cinema autoral da mais alta qualidade, cria num cenário onírico de um país sem nome, uma tragédia repleta de cenas de tensão e ação onde as referências vão da literatura ao próprio cinema, passando por mitos e folclores dentro de uma luta interna e violenta entre guerrilheiros adolescentes por poder e comando.

Com roteiro retilíneo e inovador, o diretor e roteirista Alejandro Landes trabalha e amarra muito bem sua estória através de explicitadas sugestões que sempre tangenciam, mas contornam e evitam o óbvio da informação “mastigada” optando pela eloquência das alegorias dentro de um conto ficcional que centra em crianças-soldados lutando por causa indefinida, num constante teste de lealdades oscilando entre o militarismo cruel e o anarquismo revolucionário que geram e mobilizam angustiantes questões de sobrevivência.

O elenco majoritariamente composto por iniciantes, a exceção de Julianne Nicholson, brilha em credibilidades mesmo na ausência de muitos diálogos, refletindo a certeira direção de atores bem como a indescritível, etérea e psicodélica fotografia pontuada pela pulsante trilha sonora e a edição de cortes abruptos de cenas captadas por uma câmera que ora privilegia closes e explora partes dos corpos do elenco, ora foca em amplitudes esplendorosas formatando o intenso thriller psicológico que alça o patamar de obra-prima pela forma que trabalha o universo do surreal sem perder a lucidez da proposta.

Memorável por sua concepção e realização, #Monos mostra-nos através de sugestões cênicas as graves consequências da doutrinação de uma juventude desamparada culturalmente e os perigos de uma sociedade alienada comprometendo através do individualismo ideológico o bem do coletivo e, mesmo que tal acepção possa parecer estranha para certos públicos, também será tão urgente para outros na mesma medida da instigante e incômoda pergunta final que nos é lançada por um olhar frontal.


TRAILER



Ps1: Disponível em VOD

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