Este longa-metragem alemão, escrito e dirigido por Salvas Ceviz, tem no seu título em português duas conotações distintas com o objetivo de atrair atenções. Primeiramente imaginamos alguém com uma mente perversa e que, obviamente fará maldades e vitimará outras pessoas e, só muito além do segundo ato, descobrimos que está muito mais para uma mente que, ao dominar o corpo de seu hospedeiro comete atrocidades com ele mesmo. A tradução do título em alemão é muito mais honesta com o roteiro e público ao apostar no literal: “Cabeça Estourando” muito mais justo, mas certamente
menos...atrativo. Enfim...
Então, #MentePerversa é uma obra ficcional onde é feito um estudo de caso mais profundo enquanto acompanhamos nosso protagonista (sempre pelo olhar dele) em sua vida cotidiana em embates tenebrosos com sua mente que o impele para pensamentos abjetos e atitudes de alívio, criando no espectador um suspense com incomoda tensão a espera e na torcida para que ele não cruze a linha indelével entre pensamentos, desejos, ação e crime.
O inteligente enredo não condena essa mente atormentada, vivendo a cada dia a ponto de se tornar um predador, mas apresenta uma ampla condenação social equilibrando-se entre a condenação moral sem, em momento algum, romantizar a questão fazendo com que, através de diversos planos subjetivos, o espectador se compadeça de seu sofrimento, de sua angústia diante da impossibilidade cura e de sua dor e raiva de si mesmo, incapaz que é de se livrar de um “eu” que o flagela.
Afinal, se o poeta Arthur Rimbaud declarou: “Meu Eu é um outro” e Fernando Pessoa admitia a existência de vários “Eus” conflitantes, salvando-se o tipo de patologia nefasta da personagem, quem nunca teve na vida, em algum momento, de lutar contra sua própria mente perversa?
Com fotografia predominante em tons escuros e o design de produção trabalhando em cores frias – muito cinza, preto, e tons azulados) nas locações e figurinos e com direito a trilha de suspense fazem de Mente Perversa uma obra densa, difícil de acompanhar pela complexidade psicológica e até social, resultando numa obra definitivamente espinhosa que, no entanto, não se pode retirar-lhe o mérito de ser inovadora, peculiar e ousada.
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