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  • Foto do escritorMatheus F.

HOPE - Noruega - 2020


Em uma dimensão em que simplicidade fosse valorizada dentro dos espectros da arte popular, certamente teríamos uma indicação ao Oscar por aqui, ainda que já faça parte da seleção especial do Festival de Toronto.

Hope é uma crônica, uma captura sobre o tempo. Uma penumbra que transcorre entre um pavoroso diagnóstico e os dias posteriores até sua conclusão, definitiva ou não. Um enredo de tempo truncado e acelerado que transpassa sua própria linha. Uma história que se expande e se retrai entre ternuras e recriminações na tentativa acertada de se fazer entender neste microcosmo sombrio.

E neste espaço em que tal crônica se discorre é que percebemos o belo trabalho de direção artística por trás dos simples cenários, hora claustrofóbicos passando pânico vivenciado, hora calmos exercendo verdade, semelhança.


Existe ainda uma aura de indiferença que costura as relações das personagens de modo a torna-las quase dispensáveis. Como se qualquer que fosse o elenco presente, desde Stellan Skarsgård até qualquer um, conseguisse exprimir e exercer os mesmos papeis com maestria. Por maestria, tal sensação é apenas uma suspeita inicial que logo é suplantada na medida em que tanto Stellan, enquanto distante, porém amoroso pai, quanto Andrea Bræn Hovig interpretando uma mãe com diagnóstico terminal, constroem este mundo de tensão e expectativa diante da morte não apenas com louvor, mas cortejando uma sobriedade fúnebre que há de ressecar as mais preparadas gargantas.

Aqui, a quebra de expectativa em relação aos moldes norte-americanos no que tange ao drama em si, está para além da língua ou interpretações -irredutíveis-. Há também, em seu processo de construção narrativa, uma tentativa de não ser aquilo que foi projetado para ser, um grande dramalhão. E essa tentativa que transforma suas amargas duas horas de duração em um sofrimento lento mitiga o espectador ao mesmo tempo em que, de alguma forma que eu que vos escrevo ainda não sei dizer, mantém acesa a esperança de um milagre, assim como os frios personagens que o compõe.


Hope não é sobre esperança, não é sobre processos de dor que transformam, ou ainda reviravoltas magicamente trágicas inerentes a estes enredos quase engessados. Está acima disso, para além dos prospectos do drama contemporâneo. É uma produção afirmativa, acerta e se mescla em suas doses inconstantes, porém certeiras de melodrama e verossimilhança, construindo quase um novo gênero, utilizando-se ainda - e ainda bem – de bases sólidas para isso.

Um filme que não indicaria para qualquer um, mesmo achando que todos devessem assistir.

Disponível em VOD com imagens exclusivas em: academiadecinema.net








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