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  • Foto do escritorFábio Ruiz

Jornada da Vida – França – 2018

Atualizado: 18 de ago. de 2020


Seydou Tall, descendente de senegaleses, ator famoso na França, em viagem ao seu país de origem para promover seu livro, encontra Yao, um menino de treze anos, que sozinho viajou quilômetros para conseguir o autógrafo do autor para ele e seu amigo de escola, que, amedrontado, desiste, na última hora, da aventura. Seydou preocupado com o menino decide levá-lo para casa, embarcando, sem querer, em uma jornada de autoconhecimento.

O roteiro linear, de Philippe Goudeau e Agnès de Sacy, estabelece, com precisão, as conjunturas tanto de Seydou, quanto de Yao, até o encontro dos dois em Dakar, quando o primeiro decide acompanhar o segundo até sua casa, a quase quatrocentos quilômetros dali. O texto descreve então a inusitada “roadtrip” de Seydou, durante a qual Yao e outros lhe apresentarão sua terra de origem, suas idiossincrasias, sua cultura, suas crenças, a diversidade de tribos, etnias, e de nacionalidades, apontando para questões migratórias na África, tornando-a uma viagem de autoconhecimento. Seydou, apesar de negro, é considerado branco pelos africanos, pois foi moldado nas conjunturas do colonizador, e não nas dos colonizados, tornando-o um deslocado, quase um pária, tanto na França, quanto no Senegal. Há encoberta uma metáfora, um tanto preconceituosa, na figura de sua mulher, de quem está se separando, que é dominadora e cruel que remete ao colonizador, branco e impiedoso, e as consequências nefastas para o colonizado de tais interações. A surpresa do final é atenuada pela direção ou pelo texto, e seria muito mais impactante se o texto da embalagem fosse apenas revelado dentro do carro. Além disso, há duas discretas referências ao Brasil que podem ser procuradas durante a projeção.

A direção de Philippe Goudeau é muito boa para uma terceira incursão na função, mas algumas cenas de grupo, como na rodoviária, parecem, um tanto, sem organicidade e naturalidade, mas o diretor contextualiza visualmente muito bem a viagem de descoberta das origens da protagonista. Omar Sy está ótimo, percorrendo, com delicadeza, o árduo caminho da origem do colonizador às de seus antecedentes; o menino Lionel Louis Basse faz uma grande estreia, mas, nitidamente, percebe-se sua inexperiência em suas primeiras cenas gravadas, de fácil identificação; e Fatoumata Diawara encarna com exatidão a nômade, artística e independente Glória. A fotografia, belíssima, valoriza cores e texturas; a música contextualiza não somente a África, mas os efeitos da globalização; a arte, especialmente os figurinos, marca a transição de Seydou de parisiense para africano; e a edição é muito boa.

Uma “roadtrip” não planejada, emocional e educacional, é o que traz o belo#JornadaDaVida, #Yao. Vale assistir.

TRAILER

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