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  • Foto do escritorFábio Ruiz

Os Invisíveis – Alemanha – 2018

Atualizado: 22 de ago. de 2020


O documentário Os invisíveis intercala depoimentos e encenações para dar voz a quatro sobreviventes do Holocausto que, quando iniciou a remoção dos judeus para os campos de concentração, decidiram ficar em Berlim, relatando as agruras enfrentadas em suas lutas pela sobrevivência, como as superaram, e os auxílios impensáveis que receberam e salvaram suas vidas. Ruth Arndt, Hanni Lévy, Cioma Schönhaus e Eugen Friede ilustram com grande eloquência o exato cenário da Alemanha nazista durante a segunda guerra. Um belíssimo trabalho de reconstrução histórica, tanto das narrativas dos sobreviventes, como também da Alemanha da época, retratada nas encenações de trechos das histórias dos quatro. A transição dos depoimentos para as cenas é inteligentemente realizada através de “voice overs” nas vozes dos entrevistados, que terminam, já na representação, nas dos atores. O roteiro de Claus Räfle e Alejandra López é primoroso ao intercalar quatro tramas distintas que em comum, além do aparelho nazista, têm a personagem Stella, uma jovem delatora, conduzindo-as paralelamente sem comprometer seus fios condutores.

Em suas vozes, e nas das personagens, são ilustradas suas peripécias para sobreviverem, a instabilidade de seus abrigos ou até sua ausência temporária, que os forçavam a caminhar no frio durante toda a noite, a traição de judeus que os entregariam à Gestapo pela promessa de não enviarem suas famílias aos campos de concentração, os riscos inerentes ao caminharem nas ruas, ao usarem os transportes públicos, e a fome, mas também reconhece o contexto político que os salvou; uma considerável parcela da sociedade alemã não sucumbiu aos discursos e à propaganda nazista e os ajudaram a sobreviver, provendo tetos, comida, álibis e esconderijos. Verdadeiros heróis, que descobriram, muito tardiamente, junto com seus protegidos, as reais atrocidades cometidas nos campos. Ilustra, igualmente, com esmero, as idiossincrasias de regimes totalitários como o Nazismo. Um antagonismo concentrado em um alvo distinto, no caso, o povo judeu, a quem Hitler considerava responsável por todos os males da terra; a criação de narrativas para endossar os seus discursos; a publicidade do regime através da bem construída propaganda nazista; a reorganização administrativa e militar para sancionar e implementar seus planos; a opressão; o acomodamento pedagógico para constituir a juventude nazista, que, cegamente, reproduzia os seus discursos e sua política, ao ponto de filhos denunciarem pais que ajudavam os judeus; e a corrupção generalizada da máquina, que enriquecia de todas as formas, inclusive ajudando os judeus, através da venda de passes e outros documentos, e contrabandeando produtos estrangeiros dos territórios dominados.

Claus Räfle executa diligentemente o seu roteiro, construindo os nexos narrativos e as alteridades entre depoimentos e encenações sem deslizes. O elenco é coeso, com destaque para Max Mauff, como Cioma. A música soma às tensões e define o tom de severidade do tema, e a fotografia é ótima nas encenações e regular nas entrevistas. Relatos imprescindíveis da Alemanha dominada pelo terror do nazismo é o que nos apresenta Os invisíveis, que descreve com grande imparcialidade o cenário que os permeava. Vale assistir.

PS: Em cartaz.

TRAILER

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