Será que já vimos tudo no cinema sobre a Segunda Guerra mundial? Será que o tema já não foi suficientemente explorado por todos os ângulos por inúmeros e talentosos diretores do mundo todo? Ou será que ainda caberia uma ótica nova sobre o tema?
Pois coube a perfeição através do roteiro do diretor Ferenc Török que nos apresenta num roteiro muito simples um inteligentíssimo e pungente novo olhar sobre os efeitos da barbárie em um viés de culpas e cinismo bem diferente do que o cinema costuma abordar.
Fugindo totalmente das já costumeiras cenas de batalhas, a narrativa objetiva que dura o tempo exato para manter nosso pico de atenção abre mão, felizmente, das apelativas cenas de ação criadas para atrair adolescentes, apostando forte no subjetivo sem olvidar da construção crescente do drama, mistério e suspense aguçando nossa curiosidade num crescente, criando expectativas de conflitos eminentes para desconstruí-los sabiamente.
Com fotografia artística em preto e branco portentosa que ambienta a perfeição o cenário de um modesto vilarejo e sua pequena e “culpada” população, a sagacidade da direção brinca com mudanças de ritmo e tons amarrando a atenção da platéia num microcosmo oscilante entre serenidade absoluta e caos generalizado, transformando um simples conto em um trabalho artístico que toca profundamente em aspectos culturais e sociais de forma mais que louvável.
Ao retratar a vida de pessoas que não estavam envolvidas diretamente na ocupação da Hungria pelo Terceiro Reich, ao evocar os fantasmas caminhantes de um passado recente em busca de acerto de contas entre espoliadores e espoliados, 1945 com sua sutil e densa atmosfera simbolista é uma dessas obras primas despretensiosas, mas de suma elegância por seu esmero técnico, provando que o verdadeiro cinema está bem vivo não só na tela, mas nas reflexões posteriores a ele.
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