
Quando Florence Green, uma viúva da segunda guerra, decide abrir uma livraria em uma casa histórica de Hardborough, a primeira da cidadezinha, encontra a oposição de Violet Garmart, figura central da sociedade e da “política” local, revelando a dinâmica das relações humanas, não somente na localidade inglesa, mas no mundo em que vivemos.
O roteiro estabelece, com muita perspicácia, o antagonismo entre Violet e Florence, a posição da primeira na comunidade, sua enorme influência sobre os moradores do vilarejo e a política social estabelecida nas sociedades, por menor que sejam, para a manutenção de seu “status quo”; ilustra também a ameaça que representam aqueles que, genuinamente, vivem à margem dos círculos estabelecidos, na figura de Florence, que introduz cultura na comunidade, ameaçando sua conjuntura e suas lideranças. A direção de Isabel Coixet, que também assina o roteiro, é muito boa, embora alguns enquadramentos parecem deslocados.

Emily Mortimer cria uma personagem com muita diginidade e detalhes, Bill Nighy está excelente no papel de Edmund Brunish, o outro pária da localidade, e Patricia Clarkson está muito bem no papel de Violet. O elenco coadjuvante é competente, atenção para a menina Honor Keafsey, no papel de Christine. A fotografia, arte, edição e música são ótimos e coesos entre si.

O filme não trata de leitura, literatura ou cultura, mas das relações que se estabelecem em qualquer comunidade, seja um condomínio, uma praça de cachorros, uma turma de amigos, da escola ou da faculdade, e da política que advém dessas interações e de tudo o que as pessoas são capazes para manter suas posições, por mais ridículas que sejam, dentro dessas. Vale assistir, nem que seja para se identificar com uma ou outra personagem, mas tenha a certeza, estamos todos lá.

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