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  • Foto do escritorFábio Ruiz

Pequena Grande Vida – EUA – 2017

Atualizado: 21 de ago. de 2020


Doze e meio centímetros e uma vida nababesca. E, se a humanidade fosse oferecida a tentadora possibilidade de ter seu tamanho reduzido e o de suas finanças incrivelmente avultado como solução para o problema de superpopulação? Imaginem o apelo, conjecturem a provocação. Downsizing, Pequena Grande Vida, versa exatamente sobre essa promessa. Dr. Jorgen Asbjørnsen e Dr. Andreas Jacobsen, cientistas noruegueses, fazem uma incrível descoberta enquanto testam com ratos. Cinco anos depois, anunciam à comunidade científica o que chamam de o único grande remédio para o pior problema da humanidade: o encolhimento humano, um procedimento irreversível, que reduz um ser humano ao tamanho de um cotonete. Dez anos depois, a tecnologia já é comercializada e diversas comunidades miniaturizadas, estabelecidas ao redor do mundo. As minicidades são uma mistura de parques temáticos e salões de venda de empreendimentos imobiliários para os humanos de tamanho natural. Paul Safrânek, quando a descoberta foi anunciada, morava em Omaha, onde terminou seus estudos, e cuidava de sua mãe doente. Dez anos depois, ainda em Omaha e ainda na mesma casa, ele e sua esposa, Audrey, vivem uma vida simples, Paul é fisioterapeuta ocupacional. Em um reencontro de colegas de “high school”, muito comuns nos Estados Unidos, comparecem Carol e Dave Johnson, um casal de amigos da escola que foram reduzidos. Paul e Audrey veem o apelo da vida miniaturizada, que transformaria seus cinquenta e dois mil dólares em doze milhões e meio, e decidem se submeter ao procedimento. No dia de suas miniaturizações, Paul e Audrey aguardam na recepção. Ele é chamado primeiro, o que causa um certo estranhamento na personagem e no público, enquanto ela aguarda. A enfermeira informa que os dois se reencontrarão após o procedimento. Segue-se a sequência da redução de Paul em que ele tem seus cabelos e sobrancelhas raspados, todas as suas próteses dentárias removidas – apenas material orgânico é reduzido -, e, também, todos os pelos de seu corpo. Ele, entre outros homens, entra em uma câmara em seu tamanho natural e sai pequeno. Paul acorda sozinho na sala de recuperação, preocupado com Audrey, pois existe uma pequeníssima chance de morte na transformação. Finalmente, entra um enfermeiro com um telefone na mão. É Audrey. Após rasparem seus cabelos e uma de suas sobrancelhas, ela desistiu do processo. Segue-se a vida miniaturizada e só de Paul Safrânek. O tema abre leque para diversas abordagens interessantíssimas, como a igualdade de direitos e deveres entre cidadãos de diferentes tamanhos e poder econômico, o uso da transformação como arma, questões socioeconômicas, filosóficas e humanas, entre outras. Contudo, o roteiro apenas as tangencia brevemente. A saga de Paul Safrânek apenas ilustra, superficialmente, a inevitabilidade das diferenças socioeconômicas, da cobiça, do sofrimento e da extinção humana, sejam os humanos grandes, miniaturizados, ou miniaturizados e isolados em uma comunidade subterrânea, onde a colônia original da Noruega, liderada pelo Dr. Jorgen Asbjørnsen e sua esposa, acaba por se enclausurar diante da notícia de que o degelo polar causará a extinção da vida na terra. Pequena grande vida acaba por se definir por uma comédia que, tangencialmente, aborda temas de incrível relevância. A partir do momento em que Audrey desiste do processo de miniaturização, o roteiro, de Alexander Payne e Jim Taylor, miniaturiza o filme a uma comédia banal, de pouco conteúdo e com vieses piegas. A direção de Payne é interessante. Ele consegue que, mesmo nas cenas somente entre pessoas miniaturizadas, que são iguais às cenas de pessoas de qualquer tamanho, tenha-se a sensação de que aquelas são pessoas pequenas. E faz isso mantendo a câmera um pouco inclinada para baixo e levemente acima das personagens. Contudo, Payne não tem pulso firme com os atores, esperava mais, pois já foi indicado ao Oscar de melhor direção por Os Descendentes. O filme até seria uma comédia interessante, não fosse Matt Damon, limitadíssimo. Damon não consegue transcender das personagens de ação para uma de comédia. Outro ator como, por exemplo, Steve Carell, em seu lugar, teria dado um show e a trama tivesse, talvez, um pouco mais de fôlego e animação. Christoph Waltz está como sempre excelente, mas não melhor do que suas atuações em Bastardos Inglórios e Django. Vê-se, nitidamente, como um ator de seu calibre acaba, mesmo sem intenção, por engolir um diretor de pulso fraco. Hong Chau é, junto com Waltz, o grande diferencial cômico, mas, mesmo com Chau, nota-se a maleabilidade na direção de Payne. O mesmo acontece com Kristen Wiig, apesar de não estar tão engraçada como Chau. O grande destaque de Kristen está na cena ao telefone em que Audrey comunica a Paul que não conseguiu se submeter ao procedimento. Impagável. Vale frisar o gigantismo da participação meteórica e miniaturizada de Margo Martindale, prova que um bom ator é percebido até com doze e meio centímetros de altura. O resto do elenco não se destaca, mas tem atuações eficazes. A arte é o grande diferencial do filme, a construção do mundo miniaturizado é impecável. A música também se sobressai, é agradável e consegue dar o ritmo e o tom de comédia ao filme onde Matt e Payne falharam. A edição e o som são ótimos e o figurino, competente. O filme, quando abre mão de valiosas oportunidades de questões a abordar, acaba, literal e metaforicamente, por tratar de redução e de miniaturização. Como fogos de artifício que falham ao estourar, criam-se altas expectativas antes do encolhimento de Paul e Audrey, que não são atendidas após a sua realização parcial, ou seja, apenas a redução de Paul. Uma pena. Exibido no Festival do Rio. Ao final da sessão, um silêncio constrangedor quebrado apenas por uma tentativa, parcialmente bem sucedida, de angariar aplausos . Estréia em 18 de janeiro.

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