Partindo de um plot verídico sobre a Operação Dínamo e a Batalha de Dunkirk no norte da França, e o resgate de mais de 330 mil homens, Christopher Nolan dirige e roteiriza mais um filme sobre guerra entre centenas de tantos outros que já trataram do tema sob os mais variados aspectos e óticas.
Ok seria simples assim, apenas mais um, não fosse Nolan o artífice que de simplista e óbvio nada busca e, tão pouco, apresenta trabalho que não exija mais da massa encefálica do expectador por dispensar elementos comuns já explorados no estilo e criar quebra cabeças, elegantes, primorosos e, principalmente nada lineares.
Um risco, um desafio e tanto entre muitos.
Ousando afastar o arco dramático do envolvimento emocional que toda platéia está acostumada dentro do gênero, seja pela inserção do herói ou heróis com suas trajetórias de vidas, discursos, frases e ações de efeito, Dunkirk entra e vai seguindo pelo terreno perigoso da realidade crua ( sem super heróis), criando com maestria poderosas sensações de abandono, esperança, claustrofobia, alívios e muitas angústias que mantêm o pico de tensão absurdamente rijo e coeso sem apelar, em momento algum, para cenas ou takes macabros ou sanguinolentos.
A ausência total do “inimigo” em cena, mas sua presença constante, aterradora e cada vez mais próxima é simplesmente genial, provocando muito rápido, desde a primeira cena, um estimulo à angústia, aflição e, uma torcida constante e bastante tensa pela vitória da sobrevivência.
Com três focos narrativos que servem para abranger e enquadrar a cenografia do drama, Nolan trabalha em espantosos e eloquentes planos abertos em terra, mar e ar dando uma perfeita tridimensionalidade e entendimento para platéia sem “baratear” o impressionante e realista design de produção com falsos recursos de CGI.
Em um só ato de apenas respeitosos 105 minutos, com impressionante apuro técnico, montagem frenética, porém lúcida e trilha espetacular que mescla melodias com eletrizantes efeitos sonoros, Nolan vai “brincando” de desviar e enganar nossas expectativas sem jamais olvidar o lado humano de sua história sem necessidade de trazer à baila o usual elemento do protagonismo ainda que tenha em seu cast nomes respeitáveis, todos, todos cedem espaço cênico a fragilidade humana sem nenhum arroubo ou apelação para filmes de ação.
Por fim, Dunkirk é um retrato ousado, inovador, intimista e devastador sobre a guerra em si, sobre ela mesma, mas sem desdobramentos desnecessários dos porquês, dos vilões e das dramaturgias pessoais, configurando-se não no melhor longa-metragem de guerra já feito (isso é do gosto individual), mas, certamente, no mais inteligente de todos.
Bravo!
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