O candidato da Espanha ao Oscar 2017, vem de ninguém menos que Pedro Almodóvar roteirizando sobre três contos de Alice Munro (Prêmio Nobel de Literatura em 2013), o que, por si só, já merece não só respeito máximo como uma boa e séria conferida.
Aqui, o grande diretor retorna seu foco preferencial sobre o universo feminino, retratando mulheres em conflito com passado, família e, principalmente, a dor da perda de um filho; o como prosseguir a vida a despeito do trauma, da depressão através do expurgo das culpas pelo enfrentamento das memórias.
Sem dúvida, são temas ásperos, mas que o genial diretor sabe conduzir de forma suave, sem se render ao melodrama ou dar um passo mais para perto da tragédia, insere de forma dinâmica, na confluência de dois tempos, suas conhecidas reviravoltas que fazem da trama um Thriller tenso no percurso das soluções dos enigmas.
Com foco minimalista nas minúcias e nuances do cotidiano, nas relações humanas e no desenvolvimento da psique das densas personagens, a estória de Julieta é retratada em planos, takes, figurinos e cenários esteticamente irretocáveis como um pintor que sabe aquilatar a mistura perfeita da evolução das cores na elaboração da obra.
Com elenco irrepreensível e parte técnica assombrosa, Almodóvar nos conta essa estória com sutis toques referenciais, apostando muito mais no poder dos silêncios e expressões para fortificá-la que no amparo de trilhas sonoras.
Assim, “Julieta” se transforma, diante de nossos olhos, em uma das mais bem feitas transposições da literatura para o cinema; algo que muitos tentam, mas só os gênios conseguem..
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