#DearEvanHansen, baseado no musical homônimo de Justin Paul e Benj Pasek, escrito por Steven Levenson, é um belo tratado sobre a sociedade atual, abordando temas dificílimos, como suicídio, depressão, ansiedade, carências em diferentes gerações, muito amenizados pela música inserida, com pouca organicidade, na dramaturgia, com a função de suavizar os difíceis cenários que a trama apresenta. O texto ilustra o distanciamento de pais, mais preocupados com as irrelevantes agendas “politicamente corretas”, como comida sem glúten, e menos com a saúde mental de seus filhos, expondo hipocrisias, o egocentrismo, e que todos são capazes de ações deploráveis, mas que a grandeza se encontra na forma como essas são resolvidas, assumindo responsabilidades, independente de quão graves essas são, e que sempre haverá aqueles prontos para apontar dedos, acusar e condenar, como se fossem bastiões da decência, como se fossem mais virtuosos do que aqueles que assumem seus erros, enquanto não o fazem em relação aos seus. O texto é um alerta não somente em relação aos jovens, mas a todos que vivem na atualidade, de que facilmente se abre mão de suas humanidades e de suas integridades, por questões muito menos relevantes.
O filme funciona graças a um elenco muito bem escolhido. Amy Adams e Julianne Moore, com muita brandura, sensibilidade, e compreensão, constroem personagens dignas, apesar de difíceis. Ben Platt, o Evan Hansen, faz o filme funcionar concedendo sobriedade e equilíbrio a uma personagem completamente descontrolada. Colton Ryan, como Connor, funciona muito bem na realidade e no imaginário. Kaitlyn Dever entrega muitas nuances a uma personagem mais centrada, que a humanizam, e muito. O resto do elenco funciona bem, destaque para Danny Pino. A direção de Stephen Chbosky, de As Vantagens de Ser Invisível e Extraordinário, iluminada, acerta o tom, com belíssimos planos, distanciamentos e sequências, e a mão com um texto tão delicado. A fotografia se destaca entre os quesitos técnicos. Apesar de ser um musical, as canções, visto o texto, carregam a dor e o desespero com maior leveza do que se fossem apenas palavras, e por isso são muito melancólicas, sendo poucas contagiantes. Demais quesitos são excelentes.
#QueridoEvanHansen é um soco na boca-do-estômago de qualquer um com um mínimo de senso crítico e observação da sociedade atual, ilustrando diversidades sem proselitismos, e quando é doutrinador usa esse recurso para exemplificar a falta de prioridade de muitos pais, e o final não poderia ser mais oportuno. O filme é um pouco indigesto, e, por isso, muitos não gostarão, mas, também, muito necessário. Vale demais assistir.
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