Uma análise de #Music, neste momento, não pode deixar de endereçar, simultaneamente, as polêmicas em torno do filme, e, nessa linha, essa será desenvolvida. O texto de Sia e Dallas Clayton vem imbuído de muita humanidade e, em uma simples estória, aborda questões prementes da sociedade atual. A trama gira em torno de Music, autista em nível médio para alto, após a morte a avó, que a coloca sob a tutela de sua irmã, Zu, alcoólatra em liberdade condicional por tráfico de drogas. Na trajetória das protagonistas, além das questões óbvias relacionadas às características das suas personagens, o texto aborda, direta ou indiretamente, sem politizações, o abuso físico e moral no núcleo familiar, a AIDS, a imigração, preconceitos, estereótipos e diversidades, a solidão na terceira idade, drogas, e a decadência californiana, com bastante organicidade e originalidade, em um simples enredo, entremeado, com muita precisão e criatividade, às músicas de Sia, resultando um produto bem palatável.
As principais polêmicas têm origem nos grupos “politicamente corretos” e progressistas, que parecem desconhecer a profissão de Ator, que tem como premissa interpretar alguém diferente de você, pessoa, e condenaram a escolha de uma atriz que não é autista para o papel de Music. Os ataques miraram tanto a atuação de Maddie Ziegler, quanto as cenas em que sua personagem precisa ser contida, ambas situações já com desculpas endereçadas por Sia, muito possivelmente, pressionada pela turba do “cancelamento cultural”. Entretanto, vê-se a preocupação da diretora, cuja desenvoltura em sua primeira incursão dramatúrgica surpreende, com a verosimilhança, incluindo excertos didáticos sobre a condição de Music. A atuação de Ziegler, muito boa, é bastante convincente, perdendo veracidade, devido ao texto, no final, quando muda a sua rotina, pedindo para a irmã não a abandonar. Afora esse lapso da dramaturgia, as cenas de contenção de Music, em suas crises, demonstram apenas amor das pessoas por ela, e não violência.
Dito isso, Kate Hudson, excelente, constrói uma personagem desglamourizada, bem diferente do seu habitual. Leslie Odom Jr., como Ebo, merece muita atenção e destaque por suas atuações em Music, Hamilton e Uma Noite Em Miami, indicado no último ao Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante. A estética de Sia é ímpar, criativa, elegante e, ao mesmo tempo, exagerada, na fotografia, nos figurinos, nos cenários, nas coreografias, e, por fim, na música. A edição é ótima.
#Music, de #Sia, é um filme bonitinho, que aborda temas relevantes, e até pesados, com muita leveza, e vale muito assistir. Uma pena que Sia tenha cedido às pressões de grupos mais do que equivocados e se desculpado por nenhum equívoco.
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