Um livro com teor ficcional sobre uma personagem onde muitas incógnitas permanecem até hoje e fazer um audiovisual também livremente “inspirado” nela, é algo que tende a não dar muito certo e é o que infelizmente acontece no demoradíssimo (quase três horas), #Bonde, roteirizado e dirigido por Andrew Dominik.
Como sempre insisto que filme bom é apenas uma estória muito bem contada e que tudo o mais são enfeites que somam ou não ao encantamento, no caso de “Blonde” tínhamos a interessantíssima premissa de podermos dividir o olhar sobre a pessoa (Norma Jeane) e sua criação (Marylin Monroe) tendo como pano de fundo a máquina cinematográfica de Hollywood com seus abusos misóginos e o comportamento machista de uma época.
Com tantos temas atualíssimos, o roteiro teria material suficiente para fazer um ótimo trabalho, entretanto, o foco se perde na repetição e reforço desses mesmos temas, reprisando-os inúmeras vezes (como se o público fosse incapaz de compreender), ao mesmo tempo em que a direção abusa de uma confusão e transições de elementos técnicos do audiovisual que não só alongam, a beira do cansativo, o desenvolvimento da estória prejudicando, inclusive, a boa performance de Ana de Armas que precisa disputar espaço com tantos e insistentes recursos técnicos.
Ok que a produção se esmera nos figurinos de Mari lyn Monroe, suas fotos e cenas mais conhecidas, mas esse acerto produz apenas um breve deleite visual em meio a incômoda e tormentosa insistência na miséria emocional da retratada e na repetida e desnecessária hipersexualização de Ana de Armas.
Por fim, eis um trabalho que tinha tudo para ser original pela premissa e que lamentavelmente se perde numa salada mista de composições que diluem sua potencial densidade.
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