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Foto do escritorFábio Ruiz

As Golpistas – EUA – 2019

Atualizado: 9 de ago. de 2020


#AsGolpistas, roteiro e direção de Lorene Scafaria, é uma dicotomia, por um lado, apresenta uma história interessante, engraçada, e, até certo ponto, empolgante, por outro, vem imbuído de mensagens explícitas e subliminares a serviço de políticas e ideologias. Vamos por partes.


O texto encontra Destiny, em 2007, dançarina exótica, almejando crescer no ramo, e, para tal, é apadrinhada por Ramona, com quem trava forte laço de amizade, e acompanhamos suas transformações até tornarem-se golpistas, através das sazonalidades econômicas, a partir da crise de Wall Street em 2008, enquanto as duas se reinventam para sobreviverem no mercado. O roteiro, lança mão de sua origem, o artigo de Jessica Pressler para uma revista, e o fio condutor se passa na entrevista de Destiny com a jornalista Elizabeth no presente ficcional, quando então retoma diversos momentos no passado para contar a estória de Destiny, Ramona & cia. A trama é interessante enquanto um filme de ação, ao estilo de Onze Homens e Um Segredo, e se constrói muito bem dentro do período histórico, com um ritmo ótimo, até o quarto final, quando se desenrola a conclusão, onde este desanda, tangendo o monótono, mas, apesar deste deslize, a dramaturgia é excelente, na categoria ficção. Quando avalia-se as questões factuais dentro de um contexto histórico, pois é baseado em fatos reais, a análise muda, porque apresenta as protagonistas como se Robin Hood fossem, roubando de homens, lobos de Wall Street, alguns criminosos, como classificados por Ramona, traidores de suas esposas, “womanizers”, que tratam mulheres como objetos, de quem roubar seria mais um “ajuste socioeconômico”, uma distribuição de renda forçada, mas, que, infelizmente, não se destinava aos pobres, contudo, a elas mesmas, para não somente subsistirem, mas para manterem os mesmos padrões de vida daqueles a quem criticavam e roubavam. Há um momento, inclusive, em que a jornalista verbaliza que não tem pena dos homens que foram vítimas de seus golpes, mas que estes mereceram suas agruras. Ora, eram trabalhadores de um mercado legal, sim, extremamente competitivo e cruel, mas não criminosos per se, e o texto ignora o fato de que neste mercado há também as lobas de Wall Street, que frequentam boates similares onde homens dançam, também como objetos, expondo-se até mais, pois precisam exercer suas libidos em seus ofícios. Além disso, o elenco é prioritariamente feminino, sem qualquer papel de destaque masculino, fosse o contrário, uma legião de militantes do “politicamente correto” já estaria aos berros, reclamando. E, não há uma única personagem homem, mesmo entre os policiais, que não apresentem características misóginas, ou seja, são todos, de alguma forma, canalhas, ou com qualquer destaque dramatúrgico.

A direção de Lorene Scafaria, muito boa, segue na linha do filme supracitado, Onze..., guardando diversas semelhanças estilísticas. Constance Wu e Jennifer Lopez, excelentes, fazem a trama funcionar explorando muito bem os conflitos do texto, por mais tênues que sejam, acompanhadas das ótimas Lili Reinhart e Keke Palmer. Vale ressaltar as participações das grandes Mercedes Ruehl, como Mãe, e Wai Ching Ho, como a avó de Destiny. Cardi B é um desserviço ao filme. Fotografia, música, arte e edição são boníssimas, destaque para a última. #Hustlers, uma estória com dramaturgia interessante, mas que imbuída de questões prementes da atualidade, deixa questionamentos: a elevação de um determinado grupo precisa acontecer necessariamente pela diminuição ou obliteração de outro? Não seria isso repetir o passado apenas com papéis trocados? Ou, há espaço para todos, desde que se abra mão de radicalizações e polarizações? Vale muito assistir. Em cartaz.

TRAILER

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