Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, Írisz Leiter retorna à Budapeste e à loja de chapéus que um dia pertenceu a seus pais, e se depara com mistérios do passado a desvendar, que revelam situações relevantes ao contexto histórico do período.
O fio condutor do roteiro linear de László Nemes, Clara Royer, e Matthieu Taponier acompanha o fluxo de ações da protagonista, conforme enigmas de seu passado se apresentam, um após o outro, a lançando em uma jornada de descobertas e perigos, e, assim, desconfigura a estrutura tradicional dramatúrgica com estabelecimento, desenvolvimento e conclusão, e segue pelas veredas determinadas nas decisões de Írisz perante a diferentes conjunturas. Além dos mistérios familiares, há outros relacionados com cenário político e a protagonista, que podem ser percebidos em falas um tanto desconexas de diversas personagens. A estrutura atípica e dinâmica exige maiores atenções do espectador para situações e diálogos que podem apontar em direções inesperadas.
A condução László Nemes, também diretor do vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro O Filho de Saul, é proeminente, e imprime angústias com seu ritmo e movimentos de câmera, que, frequentemente, seguem a protagonista, além de belíssimos planos e desfoques inteligentes que direcionam a atenção às relevâncias. Juli Jakab traz um belo trabalho, apesar de sua pouca experiência, e Vlad Ivanov, o melhor em cena, está em excelente atuação. A fotografia é belíssima, e se destaca dos demais critérios técnicos, ainda assim, a música, excelente, reforça o ritmo dramatúrgico, as tensões e angústias, a arte contextualiza com perfeição o período retratado, e a edição valoriza e respeita os desfoques de Nemes.
Uma jornada, misteriosa e angustiante, pelos segredos familiares e contextos políticos da época, em torno do fluxo de ações da protagonista, que revelam, além do seu passado, outros enigmas. Vale prestar atenção, vale assistir.
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