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  • Foto do escritorCardoso Júnior

Sem Rastros- EUA-2018

Atualizado: 22 de ago. de 2020


Sendo uma das produções mais elogiadas no Festival de Sundance/2018 que obteve destaque também no Festival de Cannes e, dirigido por Debra Granik (Inverno da Alma e que “descobriu” e lançou Jennifer Lawrence para o estrelato), qualquer cinéfilo já fica com as antenas em pé! E não é pra menos!

Baseado no livro “My Abanoment”, é um dos trabalhos mais pungentes de 2018 pela história de amadurecimento incomum de uma adolescente em sua tranquila relação com o pai enquanto levanta uma série de questões importantes e atuais sem recorrer a nenhum tipo de manipulação dramática e, tão pouco, sem enveredar pelo discurso do certo ou errado, apenas apresentando-nos de forma imparcial os dois lados de uma questão complexa e tratando seus marginalizados protagonistas de forma explícita, mas carregados de suavidade e delicadezas durante toda uma jornada de sobrevivência.

Com um ritmo calmo, mas nunca arrastado, dividindo-se em três partes interligadas onde cada uma aborda os estágios da evolução dos personagens, o roteiro não se preocupa em explicar antecedentes e motivações, pois o que importa acontece no momento emocional cênico do presente ficando a cargo do expectador conjecturá-los enquanto o suspense aumenta de forma gradual – Ou seria uma torcida?- por um final consensual e feliz para ambos.

Com fotografia magistral explodindo em verdes que contrastam com os tons mais soturnos das cidades, reforça o verdadeiro paradoxo entre o ser anti-social e auto-suficiente, e o mundo urbano repleto de confortos tecnológicos onde a câmera da diretora trabalha com enquadramentos perfeitos, ora “desfocando” os planos de fundo para concentrar-se nos detalhes pessoais, ora em planos abertos para inseri-los num contexto muito maior ainda que pareçam pontos na paisagem.

Por certo, a escolha de todo o elenco coadjuvante, mas principalmente a aposta nos protagonistas é, talvez, o maior acerto dentro deste trabalho já que Ben Foster (“Hell or High Water”, comentado por nós), aproveita cada frame pra provar que pode muito bem assumir um posto de ator principal de forma brilhante ainda que, outra vez, Debra Granik descobre um novo talento exponencial e apresenta ao mundo a jovem atriz Neozelandesa, Thomasin McKenzie que, se não rouba todas as cenas, entrega-se a elas num misto de delicadeza, força e paixão que, a exemplo de Lawrence, já conquista um lugar em Hollywood. Prestem atenção nesse nome, dissemos quando vimos a interpretação de Jennifer Lawrence e repetimos agora.

Por fim, #LeaveNoTrace ainda apresenta a ideia de que as pessoas mais generosas, amorosas e nada gananciosas são aquelas que já se afastaram dos grandes centros urbanos, em uma realização extremamente madura e com uma dramaticidade aguda porém argutamente sutil. Assim, o público que se encantou com o magnífico “Capitão Fantástico” (comentado por nós), poderá se encantar novamente com essa inteligentíssima digressão temática e apreciar uma crônica sobre a evolução dos seres nos tempos modernos repleta de carisma e empatia e, porque não, com uma narrativa que beira o sublime.

Infelizmente, por conta das inúmeras bobagens que ocupam as salas de cinema, “Leave No Trace” não tem previsão de chegada por aqui devendo apenas ficar disponível pelas plataformas de streaming. Que dó que dá!


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