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  • Foto do escritorCardoso Júnior

No Coração da Escuridão - EUA - 2018

Atualizado: 22 de ago. de 2020


Antes de qualquer coisa, é preciso alertar aos amantes das banalidades que se travestem de cinema que este trabalho portentoso é escrito e dirigido pelo cultuado Paul Schrader a quem poderíamos passar algumas horas escrevendo sobre, mas vamos apenas mencionar sua forte relação autoral com o impressionante “Taxi Driver" de Martin Scorsese, apenas para configurar que se trata de cinema com C maiúsculo. Abstenham-se então os que preferem sensações no lugar de emoções.

Isto posto, podemos avançar sobre uma das obras mais singulares e assustadoras deste ano que, ao partir de um plot mínimo, consegue a transcendência para questões altamente complexas e atuais sobre a fé e seu maior sustentáculo – a esperança – enquanto transita de maneira atípica e impar sobre religião e ecologia sem descambar para o panfletário, optando por seguir os rumos do lirismo filosófico questionativo numa gangorra genial e angustiante entre o subliminar e o linear.

Engenhosamente, a narrativa sobre o reverendo atormentado por dilemas pessoais e espirituais, que acorda para preocupações ambientais e percebe que, sua igreja e o mundo também estão corrompidos implicando em alterações da sua conduta comportamental, num misto de desespero, dúvidas coragem e esperanças explicitadas através de pequenos gestos, grandes diálogos e muitos silêncios, vai configurando-se numa jornada de decisões e acontecimentos inesperados em meio a crises de fé em contra ponto com interesses econômicos sem a utilização de nenhum clichê, nem apelo às complexidades, mas que, não deixa ninguém livre de sua intensidade e conseqüente desconforto.


Com relevante e austera fotografia espocando entre o claro e o escuro, Paul Schrader surpreende-nos com planos inesperados, surreais e belíssimos, enquadramentos fixos, abstenção de trilha sonora como sustentação ou amplificação de idéias, isso tudo, remetendo a claustrofobia e a liberação dentro da filosofia estética do minimalismo eloquente inclusive nas interpretações que fazem com que Ethan Hawke encontre o papel mais visceral de sua carreira.

Se Deus poderá nos perdoar pelo que estamos fazendo ao planeta, nem “First Reformed” nem seu anti-herói, nem Schrader nos darão a resposta, mas a catarse emocional da enigmática cena final, sem dúvida alguma pode ser vista como uma centelha de esperança.

Ou não?

TRAILER



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