França, costa do Mediterrâneo, uma casa à beira-mar, um idoso sofre um grave AVC e fica em estado catatônico, sem esperanças de melhoras. Angèle e Joseph, seus filhos, retornam à casa da infância para ajudar Armand, seu irmão mais velho, nos cuidados com seu pai e retomam suas vidas, onde a história nem sempre foi feliz.
O roteiro de Robert Guédiguian e Serge Valletti apresenta uma história simples, mas profunda, abordando temas delicados como a falta de perspectivas, o desemprego na maturidade, os desfortúnios da terceira idade, a imigração ilegal, suas tragédias e as políticas para a coibir, as fortunas e as desfortunas no amor, e o suicídio, tudo, sem pieguices ou grandes lamurias, mas com enorme humanidade, sem fazer juízos de valor, como um fluxo de vida que retoma após anos de separação familiar, sem acertos de contas, mas revelando os fatos que os mantiveram separados por tanto tempo. Vemos Angèle, Joseph, Armand, e Yvan, um amigo de infância, organicamente, enfrentarem os conflitos e as tragédias passadas e presentes e, sucessivamente, resgatarem suas vidas, já que não há diferentes alternativas, encarando as escolhas que lhes são apresentadas, sob um paradigma liberal, esquerdista, já desconstruído pela história, e sob a moral particular. Observa-se, por vezes, que as ações seguintes são perceptíveis.
A direção de Robert Guédiguian é ótima, com belíssimos enquadramentos que se valem tanto da beleza da vista para o mar, quanto da do mar, dispondo do belo viaduto por onde passam os trens pela costa, mas levemente simplória quando focaliza, trivialmente, quadros e fotografias, onde outras opções seriam mais salutares.
Ariane Ascaride, Jean-Pierre Darroussin, Gérard Meylan e Yann Trégouët, respectivamente, Angèle, Joseph, Armand e Yvan estão ótimos em seus papéis; Anaïs Demoustier faz um belíssimo trabalho como Bérangère; Robinson Stévenin infantiliza, desnecessariamente, Benjamin, sua personagem; e o resto do elenco é bastante competente. A música adiciona lirismo à trama, a edição e artes são muito boas e a fotografia é excelente.
Um retrato poético e autêntico de urgentes conjecturas da contemporaneidade é o que nos apresenta Robert Guédiguian com o belo Uma Casa À Beira-Mar. Imperdível.
PS: Em cartaz.
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