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  • Foto do escritorCardoso Júnior

Silêncio – EUA -2016

Atualizado: 17 de ago. de 2020


O projeto que Martin Scorsese levou trinta anos e custou cerca de quarenta milhões de dólares para colocar nas telas dos cinemas poderia ser qualificado como magnífico não fossem as 2 horas 41 minutos de duração. Será?

A história verídica adaptada do romance escrito por Shūsaku Endō, publicado em 1966 sobre os padres jesuítas portugueses no século XVII e a tentativa de catequese do povo Japonês, por si só merece enormes elogios e algumas considerações sobre a atualidade do tema.

Quem imaginar que irá assistir algo que aconteceu em um passado remoto sem qualquer link com os dias atuais, estará, com certeza, fazendo uma leitura bem rasa desta obra estupenda, pois “#Silence” com sua temática complexa, fala-nos bem de perto sobre a intolerância religiosa dos dias atuais deixando-nos a triste reflexão de que o mundo pouco evoluiu quando o assunto é liberdade religiosa. Bem pouco!

Paralelo a questão da liberdade, o roteiro nos fala também sobre questões como a busca ou questionamento da fé cristã e a obstinação cega em crenças pessoais que podem enfraquecer ou sustentar-nos frente a situações extremas. Com certeza, expectadores mais atentos aos paradoxos da inteligentíssima narrativa perceberão que, tais questões não são meramente e puramente pertencentes aos conflitos dos personagens em tela e sim, todas elas, dizem respeito a nós mesmos no cotidiano de nossas modernas vidas e o quanto temos que “negociar” posturas ideológicas em prol da sobrevivência.

Com um destaque especial para a iconografia, Scorsese estrutura seu roteiro a partir de uma pergunta única e simples: o que aconteceu com o padre Ferreira? A partir deste plot simplista, ele nos leva através ótimas tomadas por uma densa neblina, por belíssimas cenas em vilarejos, florestas, praias e mares em um trabalho de fotografia tão absurdamente belo quanto perfeito são também os figurinos e as locações.

Muito haveria ainda a ser escrito sobre a competente parte técnica e, mais ainda, sobre o espetacular roteiro que sim, poderia ser encurtado para conquistar um público mais afoito e menos afeito a sincretismos, mas Scorsese (desconfiamos), não fez essa obra pensando neles.

Okay, nem tudo é perfeito: A questão da linguagem, dos idiomas, compromete a fidelidade histórica, mas Andrew Garfield em seu paralelismo com Jesus com direito a um Judas, prova que amadurece a olhos vistos para papeis de tamanha envergadura enquanto Adam Driver e Liam Neeson, embora com menores destaques, impressionam bem como todo o elenco nipônico.

Enfim, “#Silence” que teve uma tímida passagem pelo Oscar 2017 e pelos bons cinemas nacionais em 02 de fevereiro, é uma obra tão genial que dividirá o público em dois: Aqueles que terão dificuldade em acompanhá-lo por conta do moroso ritmo e aqueles que o verão novamente para melhor compreensão de sua lógica e de seus múltiplos conceitos.

Afinal, a salvação chega pela oração?

Silêncio....

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