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  • Foto do escritorFábio Ruiz

A Torre Negra – EUA – 2017

Atualizado: 17 de ago. de 2020

Escrever a resenha de um filme é um ato arriscado, mais ainda se seu objeto foi negativamente recepcionado pela crítica. Alguns cuidados devem ser sempre observados: não entrar em contato com outras opiniões que, com certeza, influenciarão a sua; conhecer muito bem seus preconceitos, positivos ou negativos, em relação ao assunto, ao estilo ou ao tipo do objeto, ao diretor, aos atores, a qualquer um e, desses, se despir; conhecer muito bem a(s) obra(s) que deram origem ao filme; avaliar critérios o mais objetivamente possível, deixando para a subjetividade a função de embelezar o texto. Quando um filme é execrado pela crítica, o malogro toma as manchetes de assalto como abelhas no mel, e por mais que não se queira ser picado, manter-se imaculado é impossível. Resta-se apenas a inspeção detalhada dos destroços para se entender o motivo do acidente. A Torre Negra, de Nikolaj Arcel, é um desses acidentes – e, não tenham dúvidas – de grandes proporções. Mas vale entender o seu porquê. A Torre Negra é um conjunto de oito romances escritos por Stephen King, conhecido como o mestre do terror, inspirados no poema "Childe Roland to the Dark Tower Came" de Robert Browning – esse inspirado em Rei Lear de Shakespeare –, influenciados pelos trabalhos de J. R. R. Tolkien, e que incorporam múltiplos gêneros – fantasias negra e científica, terror, velho-oeste, entre outros. Os oito volumes compreendem 4250 páginas, em média 531 páginas por unidade, além de se interligarem com diversas outras obras do autor. King considera os romances de A Torre Negra a sua obra prima. O espectador, literata ou fã de King, senta-se na cadeira com a expectativa de assistir à adaptação do primeiro dos oito romances, O Pistoleiro. O inadvertido vai ao cinema ver um filme baseado na obra de Stephen King, o mestre do Terror, ou seja, espera algo nesse estilo. Ambos saem decepcionados. Nem o filme é uma adaptação de O Pistoleiro, o primeiro dos romances, nem é de terror. E nessas afirmativas residem dois grandes motivos de seu enorme fracasso. Vamos por partes. Por um lado, imaginem contemplar oito romances, totalizando 4250 páginas, em um único roteiro de no máximo 100, conseguem? Seus roteiristas, Akiva Goldsman – vencedor do Oscar por Uma Mente Brilhante –, Jeff Pinkner – roteirista de Lost, Fringe, Alias, entre outros. –, Anders Thomas Jensen – vencedor do Oscar de Curta-Metragem Live Action – e Nikolaj Arcel – de O Amante da Rainha e O Homem que Não Amava as Mulheres, em sua versão original –, todos – experientes e especializados em SCI-FI, suspense e terror – , ambiciosamente, acreditaram que conseguiriam entregar um material que contasse a saga de King, ou grande parte dessa, em um único filme. O espectador leigo fica sem subsídios para entender a história e suas personagens. O que é aquele mundo? O que são aqueles portais? Quem são e de onde vieram O Pistoleiro e O Homem de Preto, protagonista e vilão? Quem são e de onde vieram aqueles aliados, tanto do Pistoleiro, como do Homem de Preto? E o leitor dos romances, possuidor de todos os subsídios, deixa o cinema sem ver muitas e importantes passagens e personagens – como Alice, Brown, Zoltan, Cort, David, Bert, Marten, Sheb, Sylvia Pittston, o vilarejo de Tull, o salão, esses somente no primeiro volume, O Pistoleiro –, e deixa também de ver a grande passagem de Jake Chambers, cuja história foi alterada. Ou seja, o leitor de King sai decepcionado por não ver muito do que gostaria e por ver alterado muito do que não desejaria. Por outro, existe a preconcepção de que Stephen King seja o mestre do terror. Isso é, relativamente, real, mas também, muito marketing. Claro, há contos e romances de terror em sua obra, e alguns deram origem a filmes espetaculares nesse estilo, como Carrie, a Estranha, O Iluminado, O Cemitério Maldito, entre outros. Mas King, na realidade, está mais para o mestre dos romances e contos fantásticos do que para os de terror propriamente ditos. E, sim, pode haver terrores incríveis nesses também, mas não são a sua temática principal. À Espera de um Milagre, Conta Comigo, Um Sonho de Liberdade, são exemplos de filmes originados de sua literatura predominantemente fantástica. E A Torre Negra é o seu apogeu no estilo, mas trata mais de temas filosóficos existenciais do que de terror propriamente dito. Quem esperava mais um exemplar do “mestre do terror”, ficou a ver navios. A Coisa, “It”, – que mais uma versão para a tela grande será lançada este mês – vai na mesma linha, tem muito terror, mas o seu desenrolar é totalmente fantástico, deixando muitos espectadores desapontados ao seu final. Mas, além desses, há critérios técnicos que também afundam o filme. Nikolaj Arcel – cuja obra mais conhecida é O Amante da Rainha – tem, no total, seis créditos de direção, todos dinamarqueses, exceto A Torre Negra. Sua direção é fraca em todos os sentidos, desde as escolhas de tomadas até a direção de elenco que, sem uma mão forte, dependeu exclusivamente de talentos individuais. Idris Elba foi a escolha perfeita para O Pistoleiro, apesar da personagem ser branca e o ator negro – sem qualquer preconceito, somente uma constatação. Acredito que nenhum outro conseguiria dar a dignidade e beleza que Elba deu ao Pistoleiro. Mesmo entre os destroços, partes podem ser salvas, e o trabalho primoroso de Idris seja, talvez, a única nesse filme. Matthew McConaughey é..., bem, ...Matthew McConaughey, a prova cabal de que, para se ganhar um Oscar, só se precisa do ator certo em seu papel ideal. E, McConaughey, em Clube de Compras de Dallas, é o exemplar perfeito. Até que outro Ron Woodroof apareça no seu caminho ou Matthew amadureça terrivelmente a sua arte, não deverá ser contemplado com outra estatueta. Seu trabalho, como o Homem de Preto, nem vale comentar. Tom Taylor não foi a escolha sensata para uma personagem tão importante como o jovem Jake Chambers. Tom tem pouquíssima experiência e seu talento inato não a compensa a ponto de assumir um desafio tão grande. As outras atuações são pouco significativas e não boas o suficiente para comentários. Também não há destaques em som, música, arte, figurino, maquilagem, efeitos especiais ou edição que valha qualquer ressalva. É surpresa que Stephen King tenha permitido o uso de sua obra prima, como o próprio a classifica, de forma tão leviana. Nikolaj Arcel parece ter usado desse para promover a série para TV, The Dark Tower, também com Idris Elba, que será um prelúdio ao filme. Mas duvido que, apesar de Elba, lograrão qualquer sucesso mesmo em tela pequena. O conselho ao leitor é: veja ao seu próprio risco, quem sabe você gostará. PS: Em cartaz.

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