Análise nº 1.676
O novo filme do diretor italiano Marco Bellocchio contando a verdadeira história do menino judeu sequestrado pelas autoridades papais em 1852 para se tornar padre no Vaticano que passou pelos cinemas este mês, é uma grande produção em todos os requisitos técnicos além de trazer a conhecimento público algo até então desconhecido.
Infelizmente o título nacional é capcioso e induz a erro uma vez que leva a crer que um Papa foi ou seria sequestrado quando, na verdade, é ele que sequestra o menino descrito acima.
Isto posto, #OSequestrodoPapa é um longa que prima pelo designer de produção reconstruindo uma Itália no século IX nos mínimos e grandes detalhes como cenografia, figurinos, utilização da luz, fotografia, inúmeros personagens e figurantes e uma trilha sonora composta basicamente de instrumentos de cordas como violinos e violoncelos que pontuam cada emoção de um longa de quase duas horas repleto delas em todas as esferas.
A direção do cineasta e roteirista, Marco Bellocchio, trata o tema com enorme seriedade investindo numa aura soturna ao abrir mão de qualquer sutileza que amenize por algum momento uma história que por si só abalou a Igreja Católica atingindo repercussão mundial em tempos onde isso era quase impossível ao envolver várias camadas da sociedade de então.
Por certo há um tom folhetinesco em todo o desenvolvimento através da exploração das emoções de todos os envolvidos em demorados close-ups que, entretanto, não diminuem o valor do trabalho e sim reforçando-o em sua potencial dramaticidade cumprindo o intuito de narrar o crime cometidos pela Igreja (tratar crianças como suas posses com o fim de catequizá-las), tais quais aconteceram.
A luta de classes também é bem retratada através das comunidades judias ao redor do mundo tentando restituir a criança de 6 anos à sua família, mas perdendo em todas as instâncias, inclusive jurídicas, diante do imensurável poder e força do papado.
Por fim, #Rapito configura-se numa obra que deve ser vista a luz da história – salvaguardando os valores da época – e, ainda assim, deixa-nos com o coração oprimido.
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