#NuevoOrdem, escrito e dirigido por Michel Franco, apesar de não apresentar as referências, é uma releitura de duas peças de Harold Pinter, comumente encenadas juntas, uma dentro da outra. A maior, que normalmente nomeia a produção, “Party Time”, trata-se de uma festa, na mais alta casta social, entre nobres e magnatas que orquestram um golpe, e a menor, convenientemente, chamada “The New World Order”, que trata, exclusivamente, da vileza da tortura, duas coisas que norteiam o texto de Franco, uma festa na alta sociedade durante um golpe e tortura. Há em ambos os textos uma figura elusiva que tem papel central no golpe, Gavin, na peça, e Victor, no filme, uma pena que o último não tenha a presença que o primeiro tem no teatro, e aparece muito pouco, apesar de ambos representarem os mesmos interesses.
Dito isso, Franco, inteligentemente, adaptou o cenário das duas peças para a realidade socioeconômica do México, e consegue ilustrar a mesma mensagem de Pinter, que em um golpe, apenas aqueles que tem o comando da situação estão ilesos e seguros, e, todos os outros, independente de suas classes, estão sujeitos às suas consequências, muito bem ilustradas pelo texto, caso não estejam sob a proteção dos manda-chuvas, e que esses farão de tudo para acobertar suas ações e as daqueles sob seu comando. O roteiro também ilustra muito bem as mudanças de comando aparente do golpe, primeiro, aparenta vir do povo, depois do baixo escalão militar, até revelar sua real face, onde a personagem Victor poderia ser melhor elaborada; e as corrupções e os interesses financeiros imediatos de todos os grupos envolvidos no golpe, do proletariado, aos militares de baixa patente, aos de alta.
A direção, também de Franco, é excelente e consegue criar na Cidade do México o clima de revolução, com enquadramentos e distanciamentos interessantes. O elenco é um conjunto que funciona muito bem, sem destaques. Quesitos técnicos, todos, apresentam altíssimo padrão.
#NewOrder, um filme interessante sobre o processo de mudanças forçadas de regimes e poderes, que instiga tanto pelo tema, como por não haver referências na imprensa ao que parecem ser suas fontes de inspiração, as peças de Harold Pinter, das quais soube-se muito bem captar e adaptar a essência, pecando apenas na pequena participação da personagem Victor na trama. Vale muitíssimo assistir.
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