Analise 1.743

O cinema tem suas liberdades em seus roteiros, ora contando-nos sobre belas estórias com licenças ficcionais, ora fixando-se em fatos históricos para nos levar por outro caminho igualmente cinematográfico, mas quando se trata de documentários, a ótica é e sempre será mais contundente excluindo a possibilidade da inserção da fantasia o que afasta um público mais “sensível”, ainda que percam verdadeiras obras primas.

Este é o caso do indicado ao Oscar 2025, “No Other Land” falado em árabe, inglês e hebraico que documenta, por alguns anos, (2019 a 2023) a dramática, revoltante e ignóbil demolição ininterrupta de casas palestinas na Cisjordânia pelo exército israelense, expulsando famílias inteiras de seus habitats.

Os cineastas, um coletivo palestino-israelense com quatro diretores, documenta os eventos na vã esperança de que os Estados Unidos pressionem Israel a parar com a desumana destruição e se utiliza da perspectiva do jovem Basel Adra que acompanha com seu celular, indo e vindo de vilas nas montanhas ocupadas por Israel que quer transformar o local em um campo de treinamento militar e não poupam gigantescos tratores para pôr por terra centenas de casas, expulsando seus moradores para cavernas com o pouco que conseguem retirar antes da demolição.

Adra e o co-roteirista palestino Hamdan Ballal são acompanhados por um jornalista israelense, Yuval Abraham, que chegam na região para documentar o crime e, o que vemos, são soldados muito bem equipados empurrando mulheres, idosos, doentes e crianças para fora de suas casas antes que as máquinas as destruam bem como escolas, aterramento de poços artesianos d’água, e corte nas redes de distribuição.

A Produção insere imagens trêmulas de celulares que se misturam a imagens de arquivo, noticiários de TV, fundindo imagens atuais com filmes caseiros de uma geração atrás onde as expulsões começaram de forma mais discreta até que vão se tornando mais agressivas.

Se, desta vez, quebrei minha regra de não contar o filme é porque se trata de algo difícil de se ver - embora não haja cenas sanguinolentas – ainda assim o documentário encontrou pouquíssimo espaço nas salas de cinemas mundiais e espero que com sua indicação ao Oscar mais pessoas corajosas consigam ter ciência do que acontecia antes da guerra “atual” que dizimou a faixa de Gaza.
No Other Land, com seus 95 minutos, é uma peça de resistência em um local onde a sobrevivência já é uma resistência em um mundo cada dia mais politizado e mais cruel.

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