Analise 1.694
O cineasta e documentarista Jawab Rhalib, de origem belga marroquina, que já emplacou grandes sucessos por abordar temas como liberdade e direitos humanos, lança seu bombástico primeiro longa metragem ficcional abordando um assunto não só polêmico quanto muito perigoso no mundo contemporâneo: A ascensão do Islamismo radical em toda a Europa, propiciado pelas diversas ondas de imigrações, e as violentas consequências que podem e estão advindo do fanatismo religioso principalmente nas escolas da França e Bélgica.
O tema, por si só já é um barril de pólvora para o interesse de qualquer cinéfilo principalmente quando da presença da magnífica atriz belga, Lubna Azabal, que já impressionou o mundo em trabalhos como: “Incêndios” (2010) que lançou pro mundo o grande do diretor Dennis Villeneuve, que pode ser lido clicando aqui; “Adam” (2019), aqui ou “O Caftan Azul” (2022); aqui.
Ao focar a ação central numa idealista professora de literatura lecionando numa escola de segundo grau, que acredita com toda a convicção na liberdade de expressões e no combate as intolerâncias, o roteiro utiliza-se de uma aluna (muçulmana), que se declara lésbica e que sofre constantes violências – inclusive físicas – por parte de toda sua turma em sala e nas redes sociais para despertar um ferrenho combate intelectual a essas atitudes obscurantistas e extremistas pela combativa pedagoga que, diga-se de passagem, também é muçulmana.
E, assim, para resumir essa obra importantíssima, inicia-se um gradual, porém descontrolado incêndio que envolve não só a professora como todo o grupo de alunos, pais e o conselho escolar de professores alastrando por toda a comunidade islamita em Bruxelas com desdobramentos inimaginavelmente angustiantes e trágicos que descambam para várias e sérias ameaças e retaliações.
Nesse embate entre a professora libertária e o arcaico, reacionário e dissimulado professor de religião, acompanhamos debates cada vez mais calorosos entre os grupos, gerando no espectador uma enorme tensão, enquanto o conceito de “pecado religioso" e liberdade de escolhas é exaustivamente debatido deixando antever os malefícios da doutrinação radicalista em mentes ainda tão jovens oriundas de famílias doutrinárias, formando um tour de force que o público se vê envolvido inexoravelmente.
Filmado de forma natural com o uso contínuo de câmeras de mãos que muito nos aproximam das tensões e com também naturalistas interpretações dos alunos atores novatos, #AmalUmEspíritoLivre, ainda nos oferece uma diversidade de pensamentos entre os adversários sem deixar de ser um trabalho denunciatório onde a racionalidade pouco pode frente ao fundamentalismo de tolerância zero.
Por fim, essa ferramenta de análise que o cinema nos proporciona, alerta-nos para a crescente onda de intolerância que devasta o mundo atual, mas parece que, finalmente, o governo da Bélgica deixará de ver as aulas de religião como obrigatórias nos currículos escolares tornando-as apenas opcionais.
E, isso já é uma vitória que o mundo todo se beneficiará principalmente a juventude em idade escolar.
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