
O vencedor da Palma de ouro do Festival de Cannes 2005, é nada mais nada menos que outra magnífica produção dos premiadíssimos irmãos Dardennes (Dois Dias, Uma Noite - 2014) que, não só sabem contar uma história como poucos bem como imprimem sua marca registrada de um cinema sem “apelos” visuais-comerciais deixando que a câmera registre e acompanhe, em primeiro plano, suas personagens provocando a imersão emocional através do fortíssimo foco visual amparado por premissa simples, roteiro muito bem estruturado, performances naturalistas de alto impacto gerando potente carga dramática que ousa dispensar trilha sonora.

#Lenfant faz um minucioso estudo de personagens através de um relato, sem nenhum glamour, mas de forma leve e jovial sobre como é viver nas ruas de uma grande metrópole e, súbito, desloca o foco para as drásticas consequências da irresponsabilidade e loucuras de um jovem pai destituído de emoções e critérios morais de forma a nos fazer odiá-lo e ao mesmo tempo torcer por ele, por sua sorte e reabilitação.

Com bem montados planos sequência e secos diálogos, acompanhamos essa saga – essa história de amor - essas vidas sem rumo cruzando pontes, viadutos, passarelas e ruas desumanizadas, sempre em busca de abrigos e de dinheiro fácil, brincando com o auge das inconsequências juvenis mostrados de forma absurda e dolorosamente coerente e bem amarrada.

Assim, #TheChild, que nos faz questionar quem é a verdadeira criança do título além de ser uma magnífica aula de como fazer cinema de verdade ainda nos presenteia com momentos de máxima tensão emocional e até insere uma perseguição que faz Hollywood corar de vergonha, caminhando para desfecho inevitável, devastador e constrangedor por conta da dolorosa explosão de sentimentos a um centímetro de nossos rostos.
Se houve ou se haverá uma mutação é algo que não nos é dado saber, mas cinema é isso, um grande roteiro sem necessidade alguma de “defeitos” especiais.

Ps1: Disponível em VOD
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