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Foto do escritorCardoso Júnior

Cadê Você Bernadette? – EUA – 2019

Atualizado: 9 de ago. de 2020


Bernadette, uma arquiteta famosa que abandonou sua carreira após uma decepção profissional, que vive mais em função de sua filha do que qualquer outra coisa, cujo casamento parece adormecido em distanciamentos, e que tem comportamento antissocial, precisará enfrentar suas questões quando sua filha organiza uma excursão familiar à Antártida.

O roteiro de Richard Linklater, Holly Gent e Vincent Palmo, baseado no livro de Maria Palmo, apresenta muito bem as personagens, suas relações e as questões envolvidas com presteza e precisão, apresentando o conflito principal rapidamente, Bernadette, um mulher que se perdeu em sua trajetória, e está há vinte anos em uma vida tão feliz, quando se trata de sua relação com sua filha, quanto entediante quando do resto. Entretanto, para tal, lança mão de conflitos superficiais estereotipados da sociedade americana, um tanto hipócrita, entre vencedores e populares e os ditos perdedores e párias, e da necessidade insana de pasteurizar tudo e todos, sem espaço para os diferentes, e algumas situações e personagens, como o agente do FBI, parecem um tanto deslocadas da realidade com tons cômicos que tiram suas credibilidades, onde a austeridade seria mais interessante.

Dito isso, a escolha de alguns atores com tendências cômicas, como Kristen Wiig e Zoe Chao, acentuam os estereótipos, apesar da primeira ainda seguir por uma linha dramática e estar muito bem em seu papel. Cate Blanchett, excelente, concede muita credibilidade à personagem, que, um tanto excêntrica, poderia facilmente recair em paródias, Billy Crudup, um ator subaproveitado e subestimado, entrega atuação surpreendente que ancora o texto no realismo, atuando no mesmo nível de Blanchett, pois sua personagem, apesar de não ser a principal, é acometida dos mesmos conflitos dessa. E a estreante Emma Nelson entra na indústria com o pé direito, corroborando um roteiro que poderia facilmente se desacreditar. A direção do indicado ao Oscar Richard Linklater é muito boa, mas não alça voos anteriormente alçados, se destacando mais na condução dos atores, especialmente do núcleo familiar, Blanchett, Crudup e Nelson. A fotografia é excelente, especialmente aquelas na Antártida, música contextualiza muito bem os conflitos, arte caracteriza muito bem as personagens, prioritariamente, Bernadette, e edição falha em algumas transições que se percebem incômodas e sem organicidade. Uma trama interessante, e comum, de como as pessoas perdem seus rumos na vida por tempo demais, mas que também ilustra que nunca é tarde para retomá-los. Uma boa opção. Em cartaz.

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