Baseado em fatos reais, #Licht narra o período em que a jovem Maria Theresia Paradis, uma virtuosa pianista que ficou cega na infância, permanece na residência de Franz Anton Mesmer, médico e curandeiro, para se tratar, e os desdobramentos sociais, políticos, entre outros, dos controversos tratamentos de Franz.
O roteiro linear de Kathrin Resetarits, baseado no romance de Alissa Walser, se adona de um enredo simplório para versar sobre questões relevantes daquela contemporaneidade, mas que ainda na nossa encontram validade. Os preconceitos com condições especiais, como a cegueira de Maria, que levam seus pais a expô-la a periculosidades em busca da normatividade, apesar de todo o seu virtuosismo; a exploração dos benefícios econômicos de tais condições; o ceticismo com aquilo que foge à academia, e a política científica, que pode ter ceifado possíveis tratamentos, como ao que Franz submete Maria, alcançando resultados palpáveis; a descrença e descrédito de tais resultados pela ignorância e discriminação de seus meios, pois Mesmer faz uso de ondas magnéticas e imposição com as mãos, que já naquela época eram controversos; entre outras; e tenta, sensorialmente, reproduzir o olhar de Maria, mas pouco explora o dilema entre a cegueira e a virtuosidade, que é resolvido compulsoriamente.
#MademoiselleParadis traz na brilhante atuação de Maria Dragus, a protagonista, e na vultosa e suntuosa arte, mais especificamente, os figurinos, seus maiores ativos. Dragus parece possuída pela personagem, deixando fluir, com total controle, as peculiaridades da cegueira e das descobertas da luz, das cores e das coisas, advindas da sua cura. As vestimentas são atrações por si só, observem seus delicados detalhes, especialmente nas de Franz e de Maria, que são belíssimas. Somente esses realces já endossam a condução de Barbara Albert, mas vale ressaltar também a sua criatividade no uso de movimentos de câmeras para acentuarem as questões sensoriais nas vivências de Maria. A fotografia é excelente, destaque para as noturnas e na penumbra; a dição é ótima; e a música é belíssima.
O inusitado encontro entre a virtuosa Maria e o polêmico e incompreendido Franz, e seus desdobramentos, que desnudam diversas idiossincrasias do ser humano, é o que traz o belo Mademoiselle Paradis. Vale assistir.
Em cartaz.
TRAILER