O representante da Bélgica no #Oscar2019 que também foi indicado ao Globo de Ouro 2019 e, vencedor do prêmio Camera d'Or, no Festival de Cannes 2018, é interessante pelo cronológico retrato cotidiano sobre a transexualidade na liberal Bélgica, e só!
O primeiro longa do diretor Lukas Dhont, baseado numa história real, opta por uma abordagem realista/ psicológica para contar sobre uma adolescente em processo de mudança de sexo fazendo uma analogia entre dança e mudança corporal no tocante as dores e obstinações necessárias para a transformação física e, até aí, tudo bem até chegar aos extremos da inadequação do corpo.
Há acertos nos insistentes enquadramentos do rosto da protagonista buscando refletir suas inseguranças e angústias apostando mais no visual para transcrição que propriamente nos diálogos ajudado pelo ator Victor Polster, numa atuação contida, rica nas variações das emoções aproveitando das cenas longas e imersivas que cativarão no primeiro ato.
Porém, no segundo ato, o roteiro vai por um caminho no mínimo esquisito ao deixar sua personagem oca de profundidades inerentes à idade e investi-la numa bizarra obsessão pelo corpo e genitais, perdendo a oportunidade de explorá-la, enriquecê-la enquanto pessoa e indo na contramão de trabalhos magníficos como “A Garota Dinamarquesa”, “Uma Mulher Fantástica” ou mesmo “Tomboy”, esvaziando o promissor arco de profundidade da personagem.
O roteiro de #Girl, erra mais ainda no perturbador terceiro ato quando apela para uma dolorosa e drástica decisão que contraria tudo que o médico do primeiro ato deixou tão claro em suas explicações, partindo para uma espécie de desatino totalmente fora da realidade trilhada até então e, dando-se ao luxo irresponsável e imprudente de concluir com um “final feliz” muito além das bases clínicas que, a vida real gritaria: “Não seria assim!”
Ps: Disponível na Netflix
TRAILER