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Foto do escritorCardoso Júnior

Roma-México-2018

Atualizado: 18 de ago. de 2020


Histórias sobre jovens amadurecendo e fazendo seus ritos de passagem, abundam no cinema mundial e, essa, seria mais uma não fosse a genialidade com que Alfonso Cuarón a aborda, conta-nos e nos deslumbra com um “quase nada” que abarca quase tudo neste que não só é o detentor do Leão de Ouro do Festival de Veneza como o candidato do México ao #Oscar2019 e, muito provavelmente, já vencedor.


Ao colocar sua câmera a serviço do foco na vida cotidiana de uma família comum no início da década de 70 e de sua empregada preza a monótona rotina de limpar a casa, cozinhar para todos e ainda cuidar das crianças, o diretor leva-nos para dentro de uma intimidade meditativa enquanto desenrola, sem pressa alguma, uma saga ficcional em preto e branco, repleta de elementos reais que nos transportam não só para dentro da alma de duas mulheres de forma arrebatadora como também enquadra e expõe um retrato sócio-econômico magnífico.


Não, este não é um trabalho para amantes de entretenimentos já que é totalmente despido de ações eletrizantes ou reviravoltas bombásticas ainda que deixe os amantes do verdadeiro cinema reféns da harmoniosa narrativa, das sutilezas, dos diálogos inesperados, das cenas tragicômicas, formatando um drama de pequenos momentos que, incrivelmente, gera expectativas com o destino da cândida protagonista.


O controle técnico de Cuarón é tão assombroso que, enquanto sua câmera registra lentamente belos planos-sequência, “travellings” e panorâmicas brindando-nos com belíssimos enquadramentos nas cenas externas ou internas, nossos impactos emocionais vão ampliando a cada plano cênico enquanto a deslumbrante fotografia, do próprio Cuarón, cria um efeito inebriante e catártico pela estética expressionista.

Embora a dinâmica narrativa nunca transite pelo inesperado e nem tão pouco pelo previsível, Yalitza Aparicio, atriz estreante, apresenta desempenho de um naturalismo cativante enquanto leva sua silenciosa e incansável personagem da coxia ao proscênio da vida e, novamente, para os bastidores no melhor estilo Rodriguiano de a vida como ela é...ou era.


Assim, #Roma, com também seu impressionante design de som, seus simbolismos nada herméticos, silêncios orgânicos e impactantes, seus registros de época através da TV e cinema e seu requintado apuro visual, espoca em brilho e raça a força das mulheres menosprezadas que prosseguem suas jornadas de cabeças erguidas.

“Não importa o que digam a você, nós estamos sempre sozinhas”

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